A degradação moral da prática política
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- Frei Marcos Sassatelli
- 15/02/2013
Alguns fatos destes últimos tempos, amplamente divulgados na Mídia, mostram, de maneira clara, o nível de degradação moral a que chegou a prática política de muitos de nossos parlamentares, governantes e juízes.
O primeiro fato é a eleição do presidente do Senado e da Câmara Federal. Que espetáculo deprimente! Renan Calheiros (PMDB-AL), que, em 4 de dezembro de 2007, renunciou à presidência do Senado para não ser cassado e é acusado de corrupção, foi reeleito e reconduzido, no dia 2 de fevereiro, à presidência do Senado, com o voto favorável da grande maioria dos senadores.
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que também é acusado de corrupção, foi eleito, no dia 4 de fevereiro, presidente da Câmara dos Deputados, com ampla maioria de votos. É uma prática política realmente vergonhosa e repugnante.
Outro fato, que dá até nojo, é a barganha política (o “toma lá dá cá”) praticada por políticos e governantes sem nenhum escrúpulo, com a maior cara de pau e com a total falta de ética. Os cargos públicos, seja no Executivo ou no Legislativo, são loteados sem nenhuma preocupação com o bem comum. O critério para o desempenho de uma função pública não é a capacidade, a preparação e a honestidade das pessoas, mas a preocupação em “acomodar” cabos eleitorais, candidatos que não foram eleitos ou aliados políticos, para atender a interesses pessoais ou em vista de ganhos nas próximas eleições. Essa é uma prática generalizada e acontece em todos os níveis do Legislativo e do Executivo, mesmo nos governos do PT, um partido que se considerava o paladino da ética e no qual muitos depositaram suas esperanças de renovação política, ficando, pois, totalmente decepcionados.
Como exemplo - entre muitos outros que poderiam ser citados -, basta lembrar as contínuas barganhas do ex-presidente Lula, que são um jogo político interesseiro e imoral.
E agora pergunto: por que tanta preocupação em defender “a inocência” de políticos, que foram condenados por corrupção pelo STF? Quem não deve não teme! A desculpa é sempre a mesma: um complô da direita, que não se conforma com a vitória do PT e faz de tudo para voltar ao poder. Pode até ser verdade (e acredito que seja) que o grupo da direita tradicional queira voltar ao poder, mas pergunto ainda: existe uma prática política mais de direita do que a aliança com Sarney, com Maluf, com Renan e outros que foram esteios da ditadura militar? Talvez seja a nova direita que briga por espaços de poder com a antiga direita. Chega de hipocrisia! Ninguém aguenta mais! Trata-se de verdadeira obsessão pelo poder a qualquer custo e a qualquer preço. Tudo é permitido para alcançar, manter ou retomar o poder.
Outro fato, que é totalmente absurdo e que revela a degradação moral da prática pública, é a oferta de brindes a magistrados. A Associação Paulista de Magistrados (Apamagis), no dia primeiro de dezembro passado, em festa para mais de mil pessoas, distribuiu para juízes estaduais presentes (automóveis, cruzeiros, viagens internacionais e hospedagem em resorts, com direito a acompanhante), oferecidos por empresas públicas e privadas. Felizmente, ainda existem pessoas que condenam essa prática degradante e imoral. Eliana Calmon, que já foi corregedora nacional de justiça, afirma: “Saímos inteiramente dos padrões aceitáveis. Recompensa material de empresas não está de acordo com a atuação do magistrado, um agente político. Quem dá prêmio a juiz é o tribunal, quando merece promoção”.
Cláudio Weber Abramo, da ONG Transparência Brasil, questiona: “Magistrados não podem se colocar na posição de devedores de favores a empresas que podem vir a ser partes em processos que julgam. Esse tipo de prática precisa ser coibido pelo CNJ, pois configura violação da vedação fundamental de agentes públicos se colocarem em posição de conflito de interesses” (Folha de S. Paulo, 10/12/12, p. A7).
Diante dessa realidade de corrupção - cheia de falcatruas -, não podemos silenciar e nos omitir. Precisamos banir da vida pública, de uma vez por todas, as pessoas corruptas, interesseiras e sem ética. Só fazendo isso, abriremos caminhos novos para que uma outra prática política aconteça, uma prática política realmente humana e ética, somente preocupada com o bem comum. É uma utopia possível! Lutemos por ela!
Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano e doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), é professor aposentado de Filosofia da UFG. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.