Correio da Cidadania

Fazer política

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Quando o senhor José Dirceu ainda não era secretário geral do Partido dos Trabalhadores, entretanto próximo de Luiz Inácio, hospedado em nossa casa, dizia: “o PT precisa aprender a fazer política”, e nós concordávamos. Tínhamos em mente a afirmação do revolucionário Vladimir Lênin de que os socialistas precisavam ser políticos tão competentes como eram os políticos da burguesia. Não percebíamos que o Zé Dirceu tinha um outro entendimento quanto ao fazer política. Para ele, fazer política era alinhavar alianças esdrúxulas com o que existia de mais podre na política brasileira.

 

Foi imbuído desse conceito que Dirceu patrocinou a elaboração da “Carta ao Povo Brasileiro”, instrumento pelo qual assegurava ao capitalismo que o PT seria um guardião zeloso dos interesses do sistema. Moto-contínuo, ele foi à procura do “capitão de indústria”, o senhor José Alencar, e propôs que ele figurasse como candidato à vice-presidência na chapa lulista.O assentimento de José Alencar em compor a citada chapa custou ao PT o desembolso da astronômica importância, para um partido dito dos trabalhadores, de dez milhões de reais. E assim o fazer política do citado cidadão revelou a opção pelo carreirismo fisiológico e transformou o PT em uma agremiação a serviço do capitalismo.

 

Eleito presidente, Lula procurou cumprir as promessas feitas ao grande capital. Após uma audiência com o então presidente dos EUA, George Bush, anunciou que seria presidente do Banco Central uma figura da confiança dos grandes capitalistas. Anunciou que o banqueiro Henrique Meirelles assumiria essa função, em atitude que dava tranquilidade ao sistema.

 

Lula respeitou os mandamentos do Plano Real e implementou uma política assistencialista, para depois convertê-la em apoio popular aos seus propósitos eleitorais. Ao mesmo tempo, ele, tendo como íntimo colaborador o seu ministro da Casa Civil, José Dirceu, levou a cabo um bem sucedido trabalho de cooptação e engessamento das centrais sindicais e estudantis. Não bastasse, o seu “fazer política” tomou o caminho da cooptação de partidos e líderes parlamentares, em nome da governabilidade, praticando distribuição de propinas, que veio a lume através do escândalo do mensalão. Esse era o fazer político que Dirceu prometia pôr em prática.

 

Gilvan Rocha é militante socialista e membro do Centro de Atividades e Estudos Políticos. Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com

Comentários   

0 #1 Zelando da Última FlorChauke Stephan Filho 08-03-2013 11:45
Gilvan, seu artigo é interessante. Eu já o tinha lido antes. Valeu a pena ler de novo.

Quero apenas apontar um erro semântico que você cometeu.

Você empregou a expressão "moto-contínuo" (escreve-se "moto contínuo", sem o hífen)por "ato contínuo". Esta última é a expressão correta e significa "em seguida", "sem intervalo de tempo entre um ato e outro", segundo Antenor Nascentes (Dicionário da língua portuguesa da Academia Brasileira de Letras).

Já "moto contínuo" é o "movimento de um aparelho que conservasse perpetuamente o impulso dado pela força motriz" (ibidem). Este seria o caso, por exemplo, de um pêndulo que eternamente balançasse, isto é, que não perdesse a energia cinética, ou seja, a energia de seu movimento.

Reitero que o teor de seu artigo revela coisas cujo conhecimento é para mim essencial.

Isso importa muito mais do que lapsos gramaticais no correr sempre apressado de sua pena.

Agradeço a oportunidade da ótima leitura.
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