Franca degradação
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- Gilvan Rocha
- 28/03/2013
Caso observemos com a devida isenção a história do Socialismo, haveremos de ver um acentuado grau de degradação, no decorrer de sua história, quando avaliamos o perfil dos personagens maiores desse movimento. Em um primeiro momento, tivemos os socialistas utópicos, que, inegavelmente, eram dotados de qualidades intelectuais e morais, como são testemunhos Saint Simon, Charles Fourier, Louis Blanc, Phoudhon, Robert Owen. Em um segundo momento, tivemos as figuras de Karl Marx, Frederich Engels, Moses Hess e, mesmo, Ferdinand Lassale.
Após a presença de tão brilhantes figuras, tivemos uma geração qualitativamente rica, representada por figuras como foram Rosa Luxemburgo, Vladimir Lênin, Karl Kautsky, George Plekanov, Pavel Axerold, Julio Martov e, num primeiro instante, Leon Trotsky. Após a Revolução Russa e a derrota do socialismo em escala mundial, inicia-se um processo de empobrecimento dos quadros de referência do movimento, que se dá a partir daí, sob o carimbo do marxismo-leninismo ou marxismo-leninismo-trotskismo.
Desponta no cenário a figura sinistra de Joseph Stálin e, em torno dele, erige-se uma ampla campanha de culto à personalidade. Com o desaparecimento de Stálin, brotam outras figuras que retratam o aludido processo de degradação intelectual e política, caso julguemos a história pela perspectiva do socialismo.
Conflitando-se com as orientações da Terceira Internacional, dita comunista, desenvolve-se a revolução social na China, quando a figura proeminente do senhor Mao Tse Tung busca resistir aos seguidos atos de boicote, levados a cabo por Moscou com o objetivo de inviabilizar aquele processo revolucionário. Mao Tse Tung, no que pese a sua determinação militante, muito tem a desejar no quesito teoria socialista. Ele nunca passou de um sub-marxista de viés confuciano e agrário, pronto a construir parábolas e receitas do tipo: “o campo cercando a cidade”, “guerra popular e prolongada”. Em torno dessa figura, deu-se uma das maiores campanhas de culto à personalidade e um chamado “Livro Vermelho dos pensamentos de Mao”, passando a ser o livro sagrado do maoísmo, enquanto a revolução chinesa não foi além da construção de um Capitalismo de Estado sob a égide de um regime policial, sumamente fiel às resoluções tomadas pelo X Congresso do PC Russo, em 1921.
Seguindo as pegadas da degradação continuada, tivemos a figura de Nikita Kruschev, portador da proposta do “caminho pacífico para o socialismo” que custou milhares de vidas. Ao lado desse processo de distorção, floresceu a figura gloriosa e heroica do senhor Fidel Castro, que nunca ultrapassou os limites do antiamericanismo e conservou-se fiel à consigna “pátria ou morte, venceremos”, não enxergando que o antiamericanismo é uma forma patentemente reducionista da concepção do imperialismo. Essa postura deixa de lado o fato de que o imperialismo, como produto do desenvolvimento do capitalismo, não se atém às fronteiras de uma nação, embora vista a roupagem ianque, ou inglesa, francesa, alemã, canadense, italiana, sueca e japonesa.
No momento atual, a degradação do suposto movimento socialista leva a que uma grande massa de pessoas vivam política e emocionalmente de migalhas, voltando-se para figuras como: o sindicalista cocaleiro Evo Morales, da Bolívia; Rafael Correia, do Equador; e, sobretudo, em torno da falecida figura do coronel Hugo Chávez, que propunha a revolução bolivariana, orientada por um mal formulado “Socialismo do Século XXI”.
Veja-se, portanto, a que nível chegamos. Estabeleceu-se, como decorrência desses noventa anos de hegemonia stalinista, um processo de empobrecimento vertiginoso a nos deixar em estado de completa indigência política, ao ponto de se cometerem atos desvairados, como o de estabelecer alianças com o fundamentalismo fascista do Irã e da Síria, ou nutrir simpatias pela Al Qaeda, principalmente em torno do ato de destruição das Torres Gêmeas.
Diante desse quadro de penúria, só existe uma saída: a ruptura radical com o stalinismo, em suas diversas feições, inclusive o stalinismo-trotskista. E, a partir dessa ruptura, construirmos uma outra esquerda, que se apoie nos reais princípio do socialismo científico.
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Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.
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