O maior roubo do mundo
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- Mário Maestri
- 10/09/2007
Em 6 de maio de 1997, a batida seca do martelo concluía um dos maiores roubos do século 20. Extremamente rentável, com patrimônio na época de mais de cem bilhões de dólares, a Companhia Vale do Rio Doce era vendida por pouco mais de três bilhões, o equivalente ao atual lucro trimestral da empresa. Boa parte dos recursos para o assalto foi fornecida pelo BNDES, ou seja, pelo próprio Estado! Apenas em 2006, a Companhia Vale do Rio Doce teve um lucro de doze bilhões de dólares.
Em começos do século 20, capitais mundiais se interessaram pelas riquíssimas reservas minerais brasileiras, que permaneceram inexploradas devido aos enormes investimentos que a extração, transporte, beneficiamento, exportação dos produtos exigiam. Em 1942, durante a II Guerra, o presidente Getúlio Vargas fundou a Companhia Vale do Rio Doce, como desdobramento da criação, no ano anterior, da Companhia Siderúrgica Nacional.
A construção de Companhia Siderúrgica Nacional, a fundação da Vale do Rio Doce, a nacionalização das reservas minerais objetivavam apoiar o processo de industrialização, por capitais privados nacionais, sobretudo do Centro-Sul, voltada ao abastecimento do mercado interno. Com fortes investimentos públicos e o avanço da industrialização, antes mesmo da reorientação geral da produção nacional para o exterior, quando da Ditadura Militar, a Vale do Rio Doce tornou-se a maior empresa no setor da América Latina e a segunda do mundo.
Quando da privatização, já pertenciam ao passado as dificultadas que haviam impedido a apropriação mundial dos minérios brasileiros. A Vale do Rio Doce possuía enormes centros extrativistas através do país, mais de nove mil quilômetros de ferrovias, dez terminais portuários, subsidiárias em outras regiões do planeta, mercados consolidados através de todo o mundo. Os enormes investimentos públicos haviam criado negócio milionário que irrigava regiamente os cofres nacionais.
A vitória da contra-revolução neoliberal nos anos 1980-90 determinou derrota histórica, ainda não superada, do mundo do trabalho. Sob o aplauso da grande mídia e a participação ou o silêncio cúmplice de políticos, intelectuais, formadores de opinião etc., empreenderam-se através do mundo a destruição de conquistas sociais históricas e o abocanhamento dos bens públicos pelo grande capital privado.
Não foi um azar da sorte que, no Brasil, o saque neoliberal tenha sido orquestrado por Fernando Henrique Cardoso. Ao contrário de seus colegas criadores da “Teoria da Dependência”, o sociólogo paulista propunha, já nos anos 1970, a felicidade do Brasil através de sua submissão ao capital mundial. Ao contrário do que dizem por aí, o homem fez tim-tim por tim-tim o que sempre escreveu!
De 1º a 9 de setembro deste ano, realizou-se, através do país, plebiscito promovido por organizações sociais e políticas populares, sobre a necessidade da anulação da venda fajuta da Companhia Vale do Rio Doce e restabelecimento da sua propriedade pública. O plebiscito consulta também a população sobre a anulação da “reforma da Previdência”; a interrupção do pagamento da “Dívida Externa e Interna”; o fim do aumento das tarifas públicas, por concessionárias privadas de serviços públicos etc.
Foi quase total o silêncio da grande imprensa sobre o plebiscito popular. O PT apoiou a iniciativa apenas na ponta do seu bico comprido, não mexendo um dedinho sequer para a maior massificação da iniciativa, que assusta muita gente, além dos controladores da Vale do Rio Doce. A pequena multidão que votou no plebiscito registra mal-estar crescente entra a população nacional. São cidadãos e cidadãs comuns que, após viverem duas décadas sob os resultados amargos das políticas privatistas, gritam sem medo por “mais público, menos privado”, para que esse país conheça condições mais humanas de existência.
Mário Maestri, historiador, é professor da UPF.
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