Pensamento binário
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- Gilvan Rocha
- 04/06/2013
A nossa cultura judaico-cristã nos leva a processar uma lógica binária. Deus ou diabo, o bem ou o mal, são os parâmetros que servem de guia às nossas considerações diante dos fatos da vida real. Há sempre um esforço para nos manter diante de dilemas.
Na política atual brasileira, há uma tentativa de nos impor uma falsa dicotomia: nacional-desenvolvimentismo versus neoliberalismo. Colocam-nos esse dilema levando-nos a crer que não temos outra saída, se não nos alinharmos a uma dessas duas correntes, sem que seja dito que ambas estão contidas nos limites da ordem capitalista.
Numa manobra de clara intenção em fazer uma chantagem, é afirmado que assumir a defesa das políticas neoliberais representa uma posição de direita.
Enquanto isso, aqueles que se colocam em defesa do nacional-desenvolvimentismo seriam a esquerda. Pode-se até considerar que uma política neoliberal torne mais cruel a exploração capitalista, entretanto, não devemos nos ater à questão de mais ou menos cruéis, é nosso dever fugir dessa imposição, dessa falsa dicotomia, que procuram nos impingir. Devemos, sim, ao invés de fazer uma campanha de repúdio apenas ao neoliberalismo, nos empenharmos em impopularizar o capitalismo.
É necessário criar uma consciência anticapitalista, pois é nesse sistema que está o nó górdio da questão. As mazelas sociais que nos afligem, como a violência, as favelas, a prostituição, as drogas e tantas outras, não serão banidas pela hegemonia de uma ou de outra corrente política no âmbito do capitalismo, seja ela neoliberal ou nacional-desenvolvimentista. As mazelas sociais só poderão ser superadas através da desconstrução do capitalismo.
Refutemos, pois, essa tentativa de querer nos colocar uma camisa de força, que nos leve a escolher entre tucanalhas versus petralhas.
É oportuno lembrar do princípio basilar, de que a sociedade capitalista tem no seu seio duas classes sociais distintas e antagônicas: a classe burguesa, que monopoliza os meios de produção; e a partir daí, explora as classes trabalhadoras, que só dispõem de sua força de trabalho e são obrigadas a vendê-la a troco de salários.
Aí, sim, está o âmago da questão, e esse fato nos faz levantar bem alto a bandeira do socialismo, pois, se um dilema existe, ele se prende ao fato de estarmos diante de um impasse: socialismo ou a tragédia total.
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.
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