Carta ao Papa
- Detalhes
- Plínio de Arruda Sampaio
- 22/07/2013
Querido pai espiritual
Os jornais noticiam que a visita do Papa à Jornada Mundial da Juventude custará uma enormidade de dinheiro aos cofres públicos. Uns falam em 115 milhões de reais, outros em 250 milhões e outros ainda em 300 milhões.
Evidentemente, a visita do Papa e a Jornada Mundial da Juventude demandam gastos do poder público, pois todo evento que reúne um número muito grande de pessoas requer policiamento e policiamento custa dinheiro, independentemente de sua finalidade.
Contudo, por mais que seja caro, o custo do policiamento da visita do Papa não pode, em hipótese alguma, demandar quantia tão elevada. O poder público está na obrigação de detalhar esses gastos, a fim de que a população possa ver em que o dinheiro do povo está sendo aplicado.
Pensamos, portanto, que seria de toda conveniência que a Igreja viesse a público ressaltar que quantias assim exorbitantes contrastam frontalmente com a posição do Papa Francisco, que tem se empenhado em mostrar-se simples e solidário com o povo pobre.
É necessário também levar em conta que está em marcha, em todo território nacional, um vigoroso movimento de protesto contra o mal emprego do dinheiro público. Dele participam pessoas de todas as idades, mas a liderança está nas mãos dos jovens.
Seria contraproducente e até desastroso divorciar a juventude católica, reunida no Rio, dos jovens que militam pela aplicação correta dos dinheiro público.
De acordo com a agenda, o Papa, no dia 25 pela manhã, comparecerá a uma cerimônia oficial com o prefeito do Rio. Ora, o prefeito do Rio é um dos governantes mais criticados pelo Movimento pelo Passe Livre. É, portanto, do melhor alvitre que o Papa, nesse mesmo dia, reúna-se com líderes do MPL. É preciso que fique evidente que ele apoia os anseios da mocidade empenhada na justiça social.
Na certeza da compreensão de Sua Santidade, pedimos humildemente a sua benção.
Plínio Arruda Sampaio foi deputado federal em 1963/1964 e 1985/1986, além de membro da Assembleia Nacional Constituinte entre os anos de 1987 e 1991. É diretor do Correio da Cidadania.