Profissão: marxista
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- Gilvan Rocha
- 04/10/2013
O discurso dos dois mundos, um socialista ascendente e outro capitalista decadente, sucumbiu, dando lugar à profissão de “marxista”. Mas como isso se deu? As postulações socialistas foram derrotadas em 1912/13, quando, no confronto entre o discurso de defesa da pátria e o que propunha transformar a guerra imperialista em insurreições socialistas, o primeiro triunfou e os partidos operários, regra geral, foram convertidos em agremiações social-patriotas. Porém, essa vitória burguesa não foi completa naquele momento, pois se deu a Revolução Russa, em 1917, e, com ela, nasceram as esperanças de que o processo de derrota fosse revertido.
Isso não ocorreu e a contrarrevolução se instalou no seio da República Soviética, produzindo o fenômeno do stalinismo. Para se consolidar, a contrarrevolução tinha que promover o sepultamento da teoria socialista. Essa tarefa exigiu a criação da Academia de Ciência da URSS e, através dela, foi cunhada a expressão “marxismo-leninismo”.
A primeira medida no sentido de sepultar o socialismo foi a substituição do princípio da luta de classes pela contradição entre nações opressoras versus nações oprimidas. Junte-se a isso a formulação da tese da “construção do socialismo em um só país” e a nomeação da URSS como a “pátria mãe do socialismo”, propondo-se que tudo deveria ser feito em nome dos interesses do Estado soviético.
Desmoronado o discurso dos dois mundos, ficaram os “marxistas-leninistas-trotskistas” sem discurso e é nesse vácuo que se firma o “marxismo legal”, acadêmico, como profissão bem remunerada, gozando de prestígio e benesses.
Esses “marxistas” profissionais não se prestam a esclarecer o que foi a Revolução Russa, ou a chinesa, ou a cubana, ou a Guerra Civil na Espanha, ou a criminosa tese do caminho pacífico para o socialismo, que redundou, entre outros trágicos episódios, nos golpes de 1964, no Brasil; de 1965, na Indonésia; e o de 1973, no Chile.
Não, esses senhores “marxistas” se embrenham no subjetivismo e se negam, escandalosamente, a se envolverem nas questões políticas presentes e passadas. Não é por acaso que os “marxistas” profissionais, remunerados pelas academias, têm merecido da burguesia tratamento “respeitoso” e benevolente. Essa profissão está muito mais para o charlatanismo do que para o exercício real do conhecimento que tanto necessitamos, pois tanto nos aflige.
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.
Comentários
Também vejo que o Gilvan comete uma grande injustiça, pois os acadêmicos marxistas sofrem de diversas dificuldades para conseguirem recursos para suas pesquisas, encontros e participações em congressos. Muito mais dificuldades do que os pensamentos da moda anti-marxistas.E, se insistimos na contra-corrente, como no meu caso, é porque queremos formar alunos com o pensamento crítico, realizar pesquisas e manter vivo e dinâmico o marxismo.
E, logicamente, como trabalhadores, lutamos pela organização da categoria, por melhores condições de trabalho e por salários dignos.
Penso que ele erra o alvo, pois deveria estar criticando a maioria dos acadêmicos que se vendem ao mercado e são críticos do marxismo.
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