Troppo tarde, PT
- Detalhes
- José Benedito Pires Trindade e Otto Filgueiras
- 29/05/2014
Com a proximidade das eleições e por conta dos escândalos que cercam a Petrobrás, o PT redescobriu sua porção antiprivatista. É certo que os tucanos e a mídia que os instrui e lidera, e a mão grande e visível mercado, querem a liquidação da empresa. Os desvios que pretendem apurar são um biombo que, de tão transparente, revelam tudo.
Não é de se acreditar que haja alguém tão idiota a ponto de se comover com as “preocupações” do PSDB, DEM, PPS, PP, SDD et allia com a estatal. Como não é possível confiar em quem leiloou Libra, a maior reserva mundial de petróleo, se meteu no jogo do mercado internacional e ficou com um mico chamado Pasadena. Foi buscar lã e acabou sendo tosquiada.
Troppo tarde, PT.
Foram-se os dias em que o Partido dos Trabalhadores e a esquerda que em torno dele gravitava ainda resistiam à transição conservadora. Aqueles dias, tão lá atrás, quando o partido ensaiou ser corajoso e se opôs ao Plano Real, porque entendia, acertadamente, que o Plano era a adequação necessária do país para as “reformas” neoliberais que logo viriam.
Inês se foi.
Despediu-se na “Carta aos Brasileiros”, a renúncia definitiva a qualquer veleidade revolucionária, se ainda remanescesse. Parece fácil dizer, mas a realidade é tão simples assim: social-liberalismo sim, pelo socialismo, não. Ponto final.
Declarações de Paulo Maluf em uma recente entrevista à TV Brasil, para alguns caricata, simples bazófias e desclassificações da espécie, na verdade refletem de forma chocante o que foram e o que são esses descaminhos. O criador do cemitério de Perus, onde eram “desaparecidos” militantes políticos assassinados pela ditadura, vítimas do esquadrão da morte de Fleury, do DOI-CODI de Brilhante Ustra e indigentes, saudou o “aggionarmento” do PT e as ações dos governos do partido na área econômica, conformadas às expectativas (e exigências) do mercado. O talvez maior larápio de dinheiro público no Brasil exultou-se com a “modernidade” petista. Que epitáfio mais adequado?
(Constrangedor, mas revelador, foi o aparecimento do senador Suplicy fazendo uma pergunta sobre... o Programa de Renda Mínima. Deus misericordioso!).
Com diz o povo, o que não tem remédio, remediado está.
José Benedito Pires Trindade e Otto Filgueiras são jornalistas, sendo que Otto esta lançando o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular.
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