Correio da Cidadania

Ler é um perigo

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Para 73 % dos paulistanos protestos são prejudiciais.

Copa custa só um mês de gastos com educação.

Sinto vergonha dos atrasos da Copa do Mundo, diz Ronaldo.

Governo irá à Justiça contra greve de policiais na Copa.

Tem que baixar o cacete nos vândalos dos protestos, opina Ronaldo.

 

Um jornal razoavelmente democrático, como a Folha de S. Paulo, publicou essas manchetes em dias seguidos, até o final da última semana. Juntando tudo, bem que dá pra ler o seguinte: “Vamos ter um grande evento, que é a Copa do Mundo, portanto nada de protestos idiotas contra ela, isso nos envergonha, assim como o atraso nas obras exigidas pela FIFA. Deus do céu, o que irão pensar de nós? E atenção, polícia: nada de greves durante o evento, fiquem firmes e pau nos manifestantes, ou serão enquadrados”.

 

De quem é o recado? Fácil: do governo, das empresas que lucram horrores com a Copa, dos que sonham que vão lucrar horrores, dos que ganham e ainda vão ganhar com o superfaturamento das obras, da mídia amiga do poder, que também vai lucrar. E quanto à Folha? Bom, primeiro que ela também faz parte da mídia; segundo que, como empresa privada que vende notícia, vive de anúncios de outras empresas privadas, provavelmente uma parte daquelas que vão lucrar horrores com a Copa; terceiro, que também não dá pra brigar demais com o poder público, que usa jornais para veicular editais pagos, e também pra não queimar as fontes de informação, ora, ora, ora...

 

E qual o resultado para um leitor desatento? Ele passa a pensar com a cabeça daqueles que ganham horrores, hoje com a Copa, ontem e amanhã com licitações fraudulentas. Assim, vai reproduzir o discurso deles, do poder econômico do qual provavelmente não faz parte. O que é uma delícia para quem tem esse poder: imagine, deitar e rolar sem nem precisar fazer força, afinal todos concordam com tudo, de boa. Nada como um discurso fácil, curto, que dispensa trabalhosas reflexões. E ainda enfeitado com uma advertência/conselho do Ronaldo, maior artilheiro das Copas, que destila pingos daquele velho complexo de vira-lata, que muito brasileiro tem.

 

Lembro do Pelé, em pleno governo militar, falando que brasileiro não sabe votar já que nem sequer sabe escovar os dentes. Isso, claro, quando se discutia o retorno das eleições, que o governo, claro também, não queria de jeito nenhum. Grande Pelé, poeta quando fecha a boca.

 

Agora com Ronaldo, ambos babando para o poder e a ele servindo, querendo representar os brasileiros. Numa aula recente de Teoria do Estado, eu estava explicando que antigamente analfabeto não podia votar. Diziam que era para não ser enganado, já que não sabia ler. Então tá.

 

Daí eu, que leio, olho para essas manchetes da Folha e fico pensando que não ler pode ser uma saída até que boa. Acho que também vou parar de escovar os dentes. Chega de viver perigosamente.

 

Plinio Gentil é professor universitário, doutor em Direito e em Educação, Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado de S. Paulo. Pesquisador e autor de obras e textos de direito, política e educação. Integrante do Movimento do Ministério Público Democrático.

Comentários   

0 #1 RE: Ler é um perigoLuiz Carlos Ramos Cr 03-06-2014 19:16
O que faz o Min dos esportes do governo dilma ( Aldo Rebelo do pcdob ), diante das declarações da sra Joana Havelange ( neta de João Havelange e filha do Ricardo Teixeira) sob os roubos comtidos por conta destas obras da Copa da Fifa?.Pelo que se sabe optou pelo silencio !
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