Pão, Terra e Liberdade
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- Otto Filgueiras
- 16/06/2014
O segundo gol foi roubado. Não houve pênalti.
Os protestos, embora com participação popular reduzida, aconteceram de norte a sul do país.
A Polícia Militar desceu o cacete, jogou bombas de gás, ferindo manifestantes e jornalistas, de publicacões internacionais, em São Paulo. Também houve repressão policial em outras capitais.
Com exceção da rede Globo - que mostrou as vaias e os palavrões no Itaquerão dirigidos à Presidente Dilma -, até a mídia burguesa subalterna da FIFA disse que havia problemas na abertura da Copa do Mundo no Brasil.
No mesmo dia e nos subseqüentes, os analistas de plantão comentavam a roubalheira e houve até quem dissesse que foi tudo armado pela FIFA, dona do evento, para o Brasil ser campeão e levar o hexa. O ex-craque Rivelino deixou claro no Cartão Verde, da televisão Cultura, que não acreditava em arranjos.
Ainda assim o povo está desconfiado.
Outros analistas, a depender do viés ideológico, deram as suas interpretações. Quase todas desfavoráveis ao governo petista. E não foi só a grande mídia. A imprensa alternativa e de esquerda fez críticas, sendo que, em pelo menos uma, o escriba disse esperar que o governo “não troque bolas por balas”. Mas criticou a violência dos black, citando Marx, embora seja cristão radical e avesso ao marxismo.
O momento é mesmo delicado. Mas Dilma, o PT e seus aliados, incluindo Maluf, a velha e nova direita, ganham as próximas eleições, as presidenciais, possivelmente no primeiro turno.
Mas o capitalismo encalacrou. A crise chegou e vai ficar. Acabou o céu de brigadeiro. Economistas à esquerda são entrevistados pelos sítios que apóiam o governo para dizer que PSDB, DEMO e Cia são muitos piores e querem ajustes fiscais. E querem mesmo.
Ninguém sabe onde tudo isso vai terminar. Os comunistas de logotipo estão quietos. Afinal, a linha adesista ao petismo, que tanto criticaram no passado, encontra resistência dentro do próprio partido, rebelando-se contra reformismo tão escancarado.
O capitalismo provoca suas próprias crises, é anárquico, faz parte da sua natureza. Por isso Karl Marx dizia que o socialismo iria substituí-lo. E vai.
Não podemos esquecer que desde o início dos tempos existe a luta de classes. Na era primitiva, no escravismo, no feudalismo e, finalmente, no capitalismo, várias instituições foram criadas para assegurar os direitos, a exploração e a opressão das classes dominantes sobre as dominadas, incluindo a democracia burguesa.
Por isso, Karl Marx e Friedrich Engels lançaram o Manifesto do Partido Comunista, criticando a Família, a Propriedade Privada e o Estado, e dizendo que o socialismo seria o futuro da humanidade, quando a classe dos proletários, os sem posse, arrebentaria os grilhões, tomaria o poder para construir o socialismo e edificar a sociedade comunista.
De lá para cá muita coisa aconteceu, o socialismo ainda não deu certo, mas se apregoou que o capitalismo seria o fim da história, com o surgimento de partidos sociais democratas, tipo PT e PSDB, que pretendiam reformar o sistema.
O que vemos é o sistema capitalista em crises permanentes. Crises cada vez mais agudas, provocadas pelo próprio capitalismo, confirmando o que disse Marx em O Capital e, junto com Engels, no Manifesto do Partido Comunista, escritos há mais de um século.
Mas o poder proletário virá com muita luta, longa, e com sacrifício.
Portanto, cabe aos marxistas tentar avançar, acumular forças no sentido leninista. Para isso é necessário participação de milhões de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil, no mundo e uma palavra de ordem como fez a Aliança Nacional Libertadora, dirigida pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1935: Pão, Terra e Liberdade.
Só que a burguesia vai resistir para preservar seus interesses de classe e as suas propriedades, incluindo a farra do sistema financeiro. Não vai entregar o ouro que a mantém e que rouba do povo.
Para acabar com a exploração capitalista, que avilta mulheres e homens, será necessário lucidez e também garra revolucionária.
Otto Filgueiras é jornalista e está lançando, pela editora Caio Prado Júnior, o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular.
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