Correio da Cidadania

Os fascistas

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No início da década de 1960, na fundação da AP, era uma característica de uma parte dos militantes, de origem cristã e influenciados pelas ideias neo-hegelianas do Padre Henrique Lima Vaz, achar que a consciência, o pensamento ideológico e o homem tinham voos próprios, independentes do mundo material em que as pessoas viviam e vivem.

 

O idealismo neo-hegeliano persiste com força entre boa parte dos apoiadores dos governos Lula/Dilma, que defendem bandeiras progressistas, a exemplo dos direitos das feministas, são contra a homofobia e pedem a punição da PM assassina que só prende, tortura e mata pobres e negros das periferias.

 

Chegou-se mesmo a responsabilizar a classe média alta (além da mídia comercial) pelo xingamento da presidente Dilma no estádio Itaquerão, na abertura da Copa do Mundo.

 

O que essa turma de apoiadores idealistas do governo insiste em não entender é que as condições materiais em que as pessoas vivem determinam as suas ideias e valores morais.

 

Aqui em Osasco, parte importante do povo pobre acredita em deus e que Maria, mãe de Jesus, era virgem e sua primeira gravidez é obra e graça do espírito santo. Digo a esse povo religioso que foi a Igreja Católica que inventou isso, pois acha o sexo sujo e pecador, defendendo celibato dos padres interessada nas suas heranças financeiras. Digo também que, se o sexo fosse pecado, mulheres e homens nasceriam capados. E o carpinteiro José não era corno: comeu e muito bem comida a fruta de Maria. Depois curtiu o bendito fruto do vosso ventre.

 

Mas não tem argumento que convença aos religiosos de que Maria não era a virgem santíssima. No caso, há uma cultura e o domínio ideológico que lastreiam o preconceito e dogmas religiosos.

 

Isso só será superado se mudarem as condições materiais e se o socialismo der certo, não só com uma sociedade mais humana e justa, mas também superior material e tecnologicamente ao capitalismo.

 

Afinal, o socialismo marxista não é a distribuição da pobreza, como pregam os progressistas religiosos, mas a distribuição da riqueza e muito superior à sociedade capitalista, segundo Karl Marx.

 

Precisamos mostrar à população trabalhadora, e até para os setores médios, a pequena burguesia que vive do seu trabalho, que o socialismo é um avanço em relação ao capitalismo e às suas crises. Os socialistas marxistas pretendem acabar com a propriedade privada dos meios de produção e com a burguesia, mas não exterminar os burgueses fisicamente.

 

Embora saibamos que haverá trombadas contra os mais reacionários, que irão se opor, de armas na mão, contra o fim da exploração de classe, de seus privilégios e contra a conquista de um novo tempo.

 

A PM assassina é bom exemplo da resistência reacionária e fascista.

 

Mas os próceres da mídia comercial dizem não querer a PM perseguindo, prendendo e matando seus profissionais e alguns deles se dizem revoltados com pessoas da classe média reacionária que fazem justiça com as próprias mãos, amarrando o infrator num poste e o torturando. Que a polícia faça a justiça e o serviço sujo, dizem eles.

 

Essa gente hipócrita defende a repressão de classe, a turma humanista do governo petista concorda e diz querer respeito aos direitos humanos.

 

Só que o capitalismo não respeita direitos da população trabalhadora sofrida, só da burguesia, que explora, avilta e quer nossa gente reprimida por sua polícia fascista.

 

Os idealistas neo-hegelianos se dizem revoltados com o fascismo, embora não hesitem em apoiar o governo petista e de comunistas de logotipo que fazem aliança com os fascistas para garantir a administração cordata do capitalismo.

 

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Otto Filgueiras é jornalista e está lançando, pela editora Caio Prado Júnior, o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular.

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