Correio da Cidadania

"Provas Robustas", Sininho e Herzog

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Sininho e Herzog: arbítrio e aplauso da mídia

 

As "Provas Robustas" que a polícia afirma ter contra as 23 pessoas que retornaram para a prisão nesta sexta (18), por ordem judicial, já enganaram muita gente no passado. De policiais no seu ímpeto de atender a demandas políticas, à Justiça, não menos contaminada pelo ambiente político, muitos cometeram equívocos que mais tarde se traduziram em outros crimes. Ainda mais bárbaros do que aqueles aos quais tentam imputar aos presos.

 

Um caso clássico em um mesmo ambiente político e que entrou para a História do país diz respeito ao jornalista Vladimir Herzog. O diretor da TV Cultura foi arrastado para os porões do Doi-Codi em 1975 porque contra ele haveria "provas robustas" de envolvimento com guerrilheiros. Encarcerado por 16 dias, foi encontrado morto na cela e dado como suicida. Herzog tinha 38 anos e militava no PCB.

 

Quarenta anos depois, a verdade oficial deu robustez ao plano macabro de eliminação de inimigos do regime. Não só Herzog, mas centenas de brasileiros foram perseguidos, torturados, mantidos presos sem provas e mortos por conta das "provas robustas" que a polícia de então, com o apoio das Forças Armadas, levantavam sob tortura, confissões ou delações.

 

Entre os dois períodos, algumas coincidências. O amplo apoio da mídia corporativa (a imprensa, à época, mais do que silenciou, mas apoiou o golpe ideológica e logisticamente), a indiferença de entidades e sociedade como um todo e a aceitação da aplicação da lei enviesada, onde a prisão vem antes da apresentação da prova. O que dá margem para o sadismo com aparato legal.

 

De forma genérica, o chefe de polícia do Rio, Fernando Veloso, diz que foram apreendidos arma, explosivo e que haveria nas conversas gravadas com respaldo judicial estímulo a ações criminosas. Nada detalhado, mas respaldado em um estranho sigilo de Justiça.

 

O promotor que denunciou o grupo diz algo que soa invisível para alguém que busca entender quais os crimes praticados pelo grupo. Diz ele: "posse de artefato explosivo, corrupção de menor, dano básico e qualificado, resistência e lesão corporal (consumada e tentada)".

 

Mas vamos lá: armas são encontradas em qualquer canto deste país a qualquer custo desde que haja um desejo real de qualquer pessoa em adquiri-la. E não há um só adulto crítico no Brasil que não reconheça na polícia estímulo para plantar provas desde que este seja o desejo ou interesse circunstancial. Só um idiota negaria que a polícia tem historicamente forjado provas.

 

Portanto, a prisão de Sininho e outros 22 nos conduz ao mesmo teto sombrio por onde o arbítrio pós-golpe militar nos submeteu por longos 25 anos. E sob o aplauso da mesma velha mídia, na defesa de uma não menos ultrapassada política repressiva e preconceituosa.

 

Sininho e os outros 22 querem, sim, mudar o país. No que têm o nosso apoio. A mudança no Brasil se dará, para desgosto de muitos que apoiam sua prisão, através do voto legítimo e do direito à livre expressão. Se os meios que buscaram em um primeiro momento se mostraram condenáveis, que abram o processo e tornem clara sua culpa. Esconder e punir soa como vingança, como abuso da lei. E neste caso, com o apoio do Judiciário.

 

Seguem os nomes de novos 23 Vladimir Herzog que estão sob a custódia do Estado e sobre os quais o promotor, delegado e o magistrado têm a obrigação de proteger até que este processo seja extinto:

 

- Elisa de Quadros Pinto Sanzi, vulgo "Sininho"
- Luiz Carlos Rendeiro Junior, o "Game Over"
- Gabriel da Silva Marinho
- Karlayne Moraes da Silva Pinheiro, a "Moa"
- Eloisa Samy Santiago
- Igor Mendes da Silva
- Camila Aparecida Rodrigues Jourdan
- Igor Pereira D'Iicarahy
- Drean Moraes de Moura Corrêa, "DR"
- Shirlene Feitoza da Fonseca
- Leonardo Fortini Baroni Pereira
- Emerson Raphael Oliveira da Fonseca
- Rafael Rêgo Barros Caruso
- Filipe Proença de Carvalho Moraes, o "Ratão"
- Pedro Guilherme Mascarenhas Freire
- Felipe Frieb de Carvalho
- Pedro Brandão Maia, o "Pedro Punk"
- Bruno de Sousa Vieira Machado
- André de Castro Sanchez Basseres
- Joseane Maria Araujo de Freitas
- Rebeca Martins de Souza
- Fabio Raposo Barbosa
- Caio Silva Rangel.

 

Wadih Damous, ex-presidente da OAB-Rio e membro da Comissão da Verdade, disse em sua página na rede social Facebook sobre o caso e a imagem abaixo:

 

 

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“Essa é a informação com que os advogados se deparam quando tentam ver os autos do processo onde se decretou a prisão temporária de manifestantes (não sei nem como me referir a isso). Um deles me disse que quando tenta a consulta pelo site do tribunal, aparece a informação: "processo inexistente". Na ditadura, tínhamos os decretos secretos. Na democracia, teremos as sentenças secretas?”

 

Fabio Lau é jornalista.

Publicado originalmente em Conexão Jornalismo

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