Correio da Cidadania

Tenotã-mõ, de Oswaldo Sevá

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Tive, há alguns meses, a imensa satisfação de receber, do professor Oswaldo Sevá, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, o livro "Tenotã-mõ – Alertas sobre as conseqüências dos projetos hidrelétricos no rio Xingu".

 

Tenotã-mõ, da editora International Rivers Network, é uma leitura obrigatória para quem se interessa tanto pelo desenvolvimento quanto pela preservação da Amazônia. Sóbrio, didático e organizado, é robusto como se fosse ele próprio adentrar as trincheiras da batalha pelo rio Xingu. E vai, passando nas aldeias de mão em mão, na bagagem de pesquisadores, subindo rios de canoa, pois o professor Sevá também enviou uma cópia do livro para que seja depositada na coleção da base de pesquisas do Pinkaití. O livrão de 344 páginas está dividido em 11 capítulos assinados por 20 autores, versando sobre aspectos técnicos, históricos, jurídicos e humanísticos dos projetos hidrelétricos; como o assédio da Eletronorte (ou "Eletro-morte" como se brinca por aqui) sobre o povo e as entidades na região de Altamira e as pressões desta companhia sobre os autores do Estudo de Impacto Ambiental; os interesses por trás da necessidade de aumento da oferta de energia elétrica no Pará, que não têm nada a ver com possíveis melhorias na qualidade de vida do povo paraense, mas com a crescente demanda das atividades da mineradora Vale do Rio Doce, que é maior que o Estado (como explica Lúcio Flávio Pinto no capítulo 4); os gases do efeito estufa que seriam emitidos por tais hidrelétricas (capítulo 8, de Philip Fearnside) etc.

 

Tenotã-mõ, na língua dos índios Araweté, do médio Xingu, é uma palavra-chave que significa "ação livro_tenotamo.jpginauguradora" e foi escolhida como título em referência ao gesto da índia kayapó. Uma escolha absolutamente adequada para um livro contestador, que lembra, já em sua mensagem de abertura (assinada por Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu), como os índios Arara do igarapé Penetecaua, que viviam onde hoje passa a rodovia Transamazônica, foram perseguidos por cachorros, e como os que não foram extintos à bala morreram de gripe, tuberculose e malária no início dos anos 1970 com a abertura da rodovia.

 

Acima de tudo, Tenotã-mõ é um nome adequado, pois ele próprio, o livro, também é um gesto inaugurador, para sintetizar uma luta que já dura vinte anos e se prolongará por outros tantos mais (por vários governos e novas edições do livro). Pois, se por um lado, barrar todos os rios é uma "obsessão da engenharia mundial", como observaram Glenn Switkes e o professor Sevá no resumo executivo do livro, por outro, os xinguanos não vão permitir que seu rio de praias de areia branca e corredeiras seja desfigurado em um sistema de lagos assim tão facilmente.

 

Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi.

 

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Comentários   

0 #1 As Ilegalidades da Amazônia LegalSérgio César Júnior 23-06-2008 13:27
O interesse internacional pela Amazônia, não está no fato dela ser representada simbolicamente, como o pulmão do mundo e sim, como ela pode ser explorada na obtenção de recursos energéticos essenciais à produção capitalista. É certo que o homem que o homem é sedentário e nasceu para desenvolver as técnicas para prover a sua sustentabilidade e o seu conforto, porém, devemos sempre fazer de uma maneira racional e consciente de que sempre necessitaremos desse meio para retirarmos a matéria-prima e a energia para a industrialização de nossos bens-de-consumo. Em toda o continente americano há povos aborígenes que tem o direito à preservação de sua integridade física e do seu espaço de convivência, no entanto, não há uma proteção eficiente dos órgãos responsáveis para essa finalidade, porque, ainda há plutocratas que não pensam em nada, que não esteja vinculada a sua locupletação pecuniária. Isso, quando não aproveitam as reservas para manter a sua relação feudal e hereditária com a território da União. Assim como a Amazônia é de interesse Internacional, a luta pela sua preservação deve acontecer também, pela viés do interesse público e os cidadãos devem participar do seu processo de soberania, de conservação ambiental, de sustentação consciente com os seus recursos naturais.
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