Kaputt, de Curzio Malaparte
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- 10/07/2008
Há livros que fazem grande sucesso em uma determinada época e depois saem praticamente de circulação. Alguns deles não ultrapassam o interesse momentâneo do público pelo tema que abordam e não têm mesmo porque permanecer. Outros, porém, embora escritos para responder a um momento da história, alcançam uma profundidade que os atualiza quando o assunto que os motivou volta à baila.
É o caso de Kaputt, uma obra de grande sucesso nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial. Seu título diz tudo; no idioma alemão, Kaputt quer dizer quebrado, acabado, que se fez em pedaços, que foi à breca.
O autor do livro, italiano Curzio Malaparte, mistura de escritor, teórico político, "salonier" e aventureiro, surgiu no mundo literário nos anos 20 com um ensaio de ciência política – ‘A técnica do golpe de Estado’ – a respeito da Marcha sobre Roma de Mussolini, em 1922.
Malaparte, inicialmente um teórico do fascismo, rompeu com essa ideologia ainda nos anos 30. Andou preso e perseguido, mas nos anos 40, mercê de sua amizade com o genro de Mussolini, o conde Ciano, conseguiu partir para a frente oriental como correspondente de guerra do jornal Corriere della Sera.
O livro relata suas observações sobre as atrocidades cometidas pelos exércitos alemão e russo na Segunda Guerra Mundial na frente leste (Ucrânia, Polônia, Finlândia). Observações tanto do ângulo das trincheiras e aldeias ocupadas pelo exército alemão quanto dos salões dourados dos aristocratas, embaixadores e generais, que funcionavam normalmente em plena guerra e com os quais mantinha relações.
Contrapondo essas duas óticas, Malaparte retratou com frieza implacável a absoluta impotência da elite européia - culta, rica, refinada e profundamente alienada - frente à truculência do nazi-fascismo. Essa elite derrotada, mas conivente, assistia com horror, mas sem qualquer reação, a desintegração política e moral do seu mundo.
A violência da guerra não distinguia pessoas, animais, natureza. Tudo foi de roldão, na avalanche causada pela mescla de ódio e medo que comandava o comportamento dos dois exércitos em luta.
No momento em que o mundo é palco de guerras sangrentas armadas pelos países capitalistas contra as nações pobres do Oriente Médio e em que as nações africanas, assoladas pela miséria, lutam desesperadamente pela sobrevivência no meio de conflitos fratricidas, Kaputt volta a ser atual.
O livro narra o que acontece quando as pessoas preparadas, de bom senso, bem situadas na vida, por indiferença com a sorte dos demais, por medo de perder posições ou por mero comodismo, deixam de atalhar, enquanto é tempo, as obscuras forças que habitam o inconsciente coletivo da humanidade.
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