Jornadas de junho - a revolta popular em debate
- Detalhes
- José Paulo Netto
- 01/07/2014
Quando terminava o primeiro semestre de 2013, o país foi sacudido pela emergência de uma mobilização social como não se via há cerca de 20 anos: ao fim da primeira quinzena de junho, uma manifestação de jovens, na cidade de São Paulo, centrada na questão do aumento das tarifas do transporte público, deflagrou uma dinâmica que, ao cabo de um mês, despejou multidões nas ruas e praças de 22 capitais e 400 cidades e envolveu uma greve de que participaram 3 milhões de trabalhadores. O movimento pôs em confronto o Brasil real (com suas carências absurdas em todos os planos da vida social) e o Brasil da ficção (aquele da “nova classe média”, do “novo desenvolvimentismo”, que vai realizar “a Copa das Copas” e coisas que tais).
A resposta imediata dos governantes diretamente envolvidos foi a repressão mais brutal: forças de segurança estaduais (as PMs) operaram com uma violência de dar gosto aos saudosos da ditadura. O governo federal (aquele do “projeto democrático e popular”) enfiou a cabeça na areia e a grande mídia tratou de criminalizar o movimento (argumentando sobre um pretenso “vandalismo”). Corridas pouco mais de 72 horas, a dinâmica em curso obrigou a uma mudança de discurso: todos os governantes (e a fauna política da situação e da oposição institucionais) formalmente reconheceram a legitimidade do elenco de demandas (enquanto o porrete policial continuava operando no lombo das massas renitentes) e a mesma grande mídia tratou de distinguir os “vândalos” dos “manifestantes de boa índole”.
Os “comentaristas” políticos e os “analistas” econômicos trabalharam muito durante aquelas semanas – dissertaram longamente sobre as “jornadas de junho”, dando voz aos interesses dos seus patrões. Obviamente, tergiversaram as questões decisivas: o que subjaz às “jornadas de junho de 2013”? Que processos de fundo vieram à tona naqueles dias em que o país despertou de uma letargia de 20 anos? O que significaram aquelas mobilizações extraordinárias? Qual o saldo que deixaram? Que problemas colocaram/colocam às forças políticas que se batem contra o status quo?
Nos textos reunidos neste livro estão delineadas as primeiras análises necessárias para esclarecer tais questões. Os autores dessas páginas – que se inscrevem, indiscutivelmente, entre os mais qualificados intelectuais brasileiros contemporâneos, com a sua respeitabilidade acadêmica também credibilizada pela sua ativa intervenção nas lutas sociais – enfrentam a concreta problemática posta pelas “jornadas de junho”. E a enfrentam numa perspectiva totalizante e inclusiva: inquirem a sua relação com o processo da revolução brasileira, perscrutam o protagonismo dos seus sujeitos sociais, indagam a sua complexa rede de causalidades e motivações, confrontam-se com os dilemas da sua direção política, relacionam as conexões da sua pauta aparentemente heteróclita e as situam no marco crise do capital.
Não é preciso esperar que a coruja de Minerva levante voo para explicar e compreender os processos históricos: é possível, no calor da hora, produzir conhecimento crítico e radical. Os sete autores deste livro demonstram-no cabalmente.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...........................................................................................7
Plínio de Arruda Sampaio Jr.
AS REBELIÕES DE JUNHO DE 2013 .....................................................19
Ricardo Antunes
DA (ANTI)REFORMA URBANA BRASILEIRA
A UM NOVO CICLO DE LUTAS NAS CIDADES ..............................41
Pedro Fiori Arantes
AS JORNADAS DE JUNHO NO BRASIL:
CRÔNICA DE UM MÊS INESQUECÍVEL ..........................................67
Ruy Braga
JORNADAS DE JUNHO E REVOLUÇÃO BRASILEIRA ...................85
Plínio de Arruda Sampaio Júnior
LUTAS POPULARES NUMA CONJUNTURA
DE CRISE DO CAPITAL ...........................................................................109
Milton Pinheiro
DESENVOLVIMENTO, CRISE ESTRUTURAL
E LUTA DE CLASSES: UMA LEITURA DAS
MANIFESTAÇÕES DE JUNHO ..............................................................133
Maria Orlanda Pinassi
AS MANIFESTAÇÕES DE MASSA
E A DIMENSÃO ESTRATÉGICA ............................................................147
Mauro Iasi
Ficha técnica
Jornadas de junho - a revolta popular em debate
Autores: Maria Orlanda Pinassi, Mauro Iasi, Milton Pinheiro, Pedro Fiori Arantes, Plínio de Arruda Sampaio Jr., Ricardo Antunes e Ruy Braga.
Editora: Instituto Caio Prado Jr.
José Paulo Netto é professor e vice-diretor da Escola de Serviço Social da UFRJ, doutor em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).