Congresso: os terceirizados do poder econômico
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- Roberto Malvezzi (Gogó)
- 23/04/2015
Você está contente com os serviços prestados pelas terceirizadas? Vou dar um exemplo caseiro. Aqui a OI/VELOX terceirizou a assistência técnica da internet para uma empresa que nem sabemos o nome.
No começo tínhamos 5 Mbps de velocidade. Pagamos por eles. Agora não chega a um. Há seis meses telefonamos. Depois de esperar às vezes horas dependurados nos telefones, ligando e desligando modem, conversando à distância, nada resolvido. Então, a empresa envia um terceirizado.
O técnico, por mais boa vontade que tenha, chega aqui, volta a ligar para a central. Gasta mais algumas horas e vai embora sem resolver. Os mais honestos nos dizem: “vou cair fora desse serviço, a gente não tem poder algum de decidir e ainda tem que escutar os clientes”.
A questão do lixo é a mesma coisa, mesmo sendo uma terceirização municipal. Passa três vezes por semana. Porém, não temos mais varrição das ruas. Se quisermos boca de bueiro limpa, temos que limpar nós mesmos, os moradores, e ainda pagar pela feitura e implantação da grade que deveriam estar na boca dos bueiros. Mas o IPTU não tem perdão.
Não temos onde pegar, não temos como nos defender. Recorrer ao Procon? Essas empresas nos sugam no atacado e nós nos defendemos no varejo? Afinal, todos sabem quais são as empresas mais acionadas pela péssima prestação de seus serviços.
Os empresários estão eufóricos com a nova lei das terceirizações. Afinal, não é só questão de legalizar o que está estabelecido, mas ampliar, até para as atividades-fim. Assim, até educação, saúde e serviços essenciais poderão ser terceirizados. Se a saúde pública já é o que é – dizem que nos serviços públicos não vão mexer -, se quem tem plano de saúde já não aguenta mais reclamar dos serviços dos planos, imaginem quando entrarem as terceirizadas!
Portanto, não são apenas as condições dos trabalhadores que serão precarizadas, mas a própria prestação do serviço.
Esse é mais um grande serviço da Câmara dos Deputados – terceirizados do poder econômico – prestado ao povo brasileiro. Afinal, aprovaram as mudanças no Código Florestal, querem reduzir a maioridade penal, precarizar os serviços pela terceirização, mas não se esqueceram de ampliar seu fundo partidário e uma bolada de 16 milhões de reais ao ano para cada deputado no chamado “orçamento impositivo”.
Nem na ditadura vimos um Congresso legislar tão descaradamente em causa própria. O Congresso é a representação invertida – de cabeça pra baixo – da sociedade brasileira.
Sim, o único serviço perfeito é cobrança da conta ao final do mês. Essa não falha e nem atrasa.
Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.