Correio da Cidadania

Educação pública ou irresponsabilidade pública?

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A greve dos trabalhadores e trabalhadoras da educação pública municipal de Goiânia (servidores docentes e administrativos), no dia 13 do mês corrente, completou 30 dias. Diante dessa realidade, eu pergunto: trata-se de educação pública ou de irresponsabilidade pública? A resposta é: de irresponsabilidade pública.

 

Segundo o Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (SIMSED), as negociações com a prefeitura, depois de um mês de greve, permanecem sem alteração. O desrespeito do poder público municipal para com os servidores docentes (professores) e administrativos é inaceitável. Por que será que tem tanta dificuldade de dialogar, num plano de igualdade, com os trabalhadores e trabalhadoras? Os governos do PT, que parecia um partido diferente, não fogem à regra. Às vezes, são até piores que os outros. Decepção.

 

Unindo-me aos movimentos populares e sindicais que lutam pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, manifesto a minha total solidariedade e o meu irrestrito apoio aos trabalhadores e trabalhadoras da educação municipal de Goiânia, em greve desde o dia 14 de abril. Repudio, ainda, com veemência as agressões que os mesmos sofreram no Paço Municipal, no dia 23 de abril de 2015.

 

A greve da rede municipal de ensino de Goiânia tem como principal reivindicação o cumprimento das promessas feitas pelo governo municipal aos trabalhadores e trabalhadoras da educação nas greves de 2013 e 2014, que incluem o pagamento de data-base e do piso salarial retroativo a 2014, e a manutenção de direitos trabalhistas, que foram revogados pela prefeitura de Goiânia.

 

Reparem: os servidores, docentes e administrativos, não apresentam novas reivindicações (teriam direito de fazê-lo), mas, sabendo das dificuldades pelas quais a prefeitura está passando, numa atitude de corresponsabilidade, só pedem que seja mantida a palavra dada. Nem isso o poder público faz.

 

Em vez de serem convidados pela prefeitura para sentarem-se à mesa de negociação, os trabalhadores e trabalhadoras da educação do município de Goiânia, no dia 23 de abril, foram surpreendidos por um cordão de isolamento da Guarda Municipal, que não permitia a passagem de ninguém. Em seguida, foram agredidos por membros da Guarda Municipal de Goiânia, com o uso de spray de pimenta, socos, pontapés, cassetetes e armas de choque. As imagens da barbárie e da violência contra os trabalhadores e trabalhadoras da educação foram mostradas em rede nacional. Que vergonha para um governo que se diz dos Trabalhadores.

 

No dia 24 de abril, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás reconheceu a legalidade e o direito de greve dos trabalhadores e trabalhadoras da educação municipal de Goiânia e determinou que o governo nunicipal receba o SIMSED para a abertura do diálogo e a negociação de um acordo que leve ao fim da greve.

 

As reivindicações dos trabalhadores e trabalhadoras da educação são justas. Elas têm por objetivo melhorar as condições de trabalho e implementar uma educação pública de qualidade.

 

Estendo, pois, a minha solidariedade e o meu apoio aos trabalhadores e trabalhadoras da educação do município de Aparecida de Goiânia (região metropolitana da capital) e do estado de Goiás, que entraram em greve no dia 4 e no dia 13 deste mês, respectivamente, e de outros estados e municípios do Brasil, também em greve.

 

Em Aparecida de Goiânia, os trabalhadores e trabalhadoras da educação reivindicam o pagamento do piso salarial nacional, que é de R$ 1.917, a concessão de licença-prêmio, o aumento do vale-alimentação e a progressão vertical, que permite o acesso de todos a cargos superiores, mediante avaliação de títulos.

 

No estado de Goiás, a categoria reivindica: o pagamento do piso dos professores (com o reajuste de 2015) e do salário integral dentro do mês trabalhado (com o fim do parcelamento dos salários), o cumprimento da data-base dos administrativos, a equiparação do salário dos contratados temporários com o dos efetivos, a realização de concurso público para a contratação de professores e o fim do processo de terceirização da gestão das unidades de ensino da rede estadual.

 

São reivindicações que, como as de Goiânia, têm por objetivo reverter a situação calamitosa em que se encontra a educação pública em Goiás (e no Brasil) e implementar um sistema de ensino público de qualidade.

 

A Constituição Federal afirma que os estados e municípios devem aplicar anualmente “vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” (Art. 212). Reparem: a Constituição Federal reza: “no mínimo”. Isso quer dizer que, se houver necessidade, o Estado pode e deve aplicar mais.

 

A Constituição Federal afirma ainda que o direito à educação, entre outros direitos, deve ser assegurado à criança e ao adolescente, “com absoluta prioridade” (Art. 227). Ora, se o direito à educação deve ser assegurado “com absoluta prioridade”, mesmo que faltem verbas para outras obras, nunca deveriam faltar para a educação. Em caso contrário, não se trataria de “absoluta prioridade”. É uma questão de lógica.

 

Enfim, a Constituição Federal afirma: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Art. 205).

 

Parabéns aos trabalhadores e trabalhadoras da educação pública do município de Goiânia, do município de Aparecida de Goiânia, do estado de Goiás e do Brasil, pela garra que sempre demonstram na defesa de seus direitos.

 

Uma outra educação, ou seja, uma educação pública de qualidade, é possível e necessária. Continuemos a lutar por ela!

 

 

Leia também:

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Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), é professor aposentado de Filosofia da UFG.

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Comentários   

0 #1 Educação pública ou irresponsbilidade Pública?Ednay de C Lucas 25-05-2015 16:47
Trabalhar para a Educação é um dos mais difíceis paradigmas, do povo brasileiro.
Quando de um lado o interesse de algum individuo seguir os desígnios de ser um educador nas diversas áreas, existe um outro lado, cujo respeito e a dignidade por tal profissão encontra-se em situação de caos e decadência total, em razão da inércia daqueles que eleitos pelo povo, pouco se interessam em melhorar a qualidade e quantidade de seus proventos. Poucos são aqueles congressistas, governistas, e juristas que sugerem , ou retiram do fundo de suas gavetas, propostas emboloradas de valorização, da carreira de maior relevância, expurgando aquilo já positivado na Carta Magna Nacional, visando impulsionar a todos os indivíduos o direito de realização daquilo que seriam seus sonhos. Ou seja impulsionar o desenvolvimento cognitivo e intelectual, e o de SER para TER felicidade própria no desafio de qualificar seus irmãos pátrios direcionando-os para uma melhor qualidade de vida... O Brasil de norte a sul, aqui ou acolá tende a abraçar, cada vez mais insistentes e desprezadas lutas, marchas ou conflitos quanto à planos de carreiras e melhorias na qualidade do ensino. O que justamente acarretará a falta de interesse dos jovens de fazerem escolhas, que os levarão apenas à caminhos tortuosos, ou seja, ser um insignificante "professor" ou sujeito da contemporaneidade.
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