Correio da Cidadania

Discurso de Francisco aos participantes aos movimentos: defender a Mãe Terra

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“Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa Irmã, a Mãe Terra,

que nos sustenta e governa e produz variados frutos

com flores coloridas e verduras” (Cântico das criaturas)

 

Neste quinto artigo sobre o 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, destaco o quarto e último ponto marcante do discurso do Papa Francisco: “defender a Mãe Terra” (que é a terceira grande tarefa, “talvez”, diz ele, a “mais importante que devemos assumir hoje”, proposta por Francisco aos movimentos populares).

 

O Papa Francisco inicia dizendo: “a casa comum de todos nós está sendo saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave. Vemos, com crescente decepção, sucederem-se uma após outra reuniões de cúpula internacionais sem qualquer resultado importante”.

 

E afirma: “existe um claro, definitivo e inadiável imperativo ético de atuar que não está sendo cumprido. Não se pode permitir que certos interesses, que são globais, mas não universais, se imponham, submetendo Estados e organismos internacionais, e continuem a destruir a criação”.

 

Francisco faz, pois, um apelo à responsabilidade: “os povos e os seus movimentos são chamados a clamar, mobilizar-se, exigir - pacífica, mas tenazmente - a adoção urgente de medidas apropriadas”. E um pedido: “peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra. Sobre este assunto, expressei-me devidamente na Carta Encíclica ‘Laudato si’”.

 

O Papa conclui lembrando: “quero dizer-lhes novamente: o futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos, que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança”.

 

Reparem a confiança que Francisco deposita na capacidade dos povos se organizarem e dos movimentos populares conduzirem o processo de mudança.

 

Enfim, com muita empatia para com os movimentos populares, o Papa manifesta sua solidariedade: “estou com vocês. Digamos juntos do fundo do coração: nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma veneranda velhice”.

 

E de coração aberto, como um verdadeiro irmão, incentiva os movimentos populares, dizendo: “continuai com a luta de vocês e, por favor, cuidai bem da Mãe Terra. Rezo por vocês, rezo com vocês e quero pedir a Deus nosso Pai que vos acompanhe e abençoe, que vos cumule do seu amor e defenda no caminho concedendo-vos, em abundância, aquela força que nos mantém de pé: esta força é a esperança, a esperança que não decepciona. Obrigado! E peço-vos, por favor, que rezeis por mim”.

 

O discurso de Francisco, que certamente não agrada aos detentores do poder econômico, mesmo que às vezes se digam “católicos”, é claramente anticapitalista. Chama o capitalismo de “sistema idólatra que exclui, degrada e mata”; de “sistema que impõe a lógica do lucro a todo custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza” (a Mãe Terra); de “sistema insuportável” e “ditadura sutil”.

 

O Papa convida-nos a escutar os clamores da nossa Irmã, a Mãe Terra - violentada e devastada - e a nos comprometer com sua defesa.

 

“A nossa casa comum se pode comparar ora a uma Irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa Mãe, que nos acolhe nos seus braços”. Esta Irmã, a Mãe Terra, “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos pensando que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que ‘geme e sofre as dores do parto’ (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos”.

 

Precisamos com urgência mudar o nosso comportamento e as estruturas do sistema no qual vivemos. Qual é a contribuição que a Igreja, com suas Pastorais Sociais e Ambientais, pode dar para essa mudança? Como cidadãos e cidadãs, cristãos e cristãs, pensemos!

 

 

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Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), é professor aposentado de Filosofia da UFG.

E-mail: mpsassatelli(0)uol.com.br

 

 

 

 

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