Uma nova São Paulo surge
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- Rafael Castilho
- 05/02/2016
Brota no interesse adquirido pelas pessoas em ocupar os espaços públicos. Em geral, o paulistano não gostava de espaço público. Procurava mesmo os lugares privados. Onde se paga para ficar. Onde se tem a garantia de ver "gente bonita".
Nas ruas, parques e praças aparecem "gente feia". Além dos moradores de rua, que revelam a exclusão que a gente finge que não vê, ou mesmo não quer acreditar pra não se sentir tão culpado.
Para nós, paulistanos, a rua era o espaço de trânsito que separa dois espaços privados. Os espaços privados são onde as pessoas de bem costumam ficar.
Isso ainda persiste, mas está mudando. Que lindo. Ainda bem.
É só olhar com alguma atenção pra perceber esta cidade em plena transformação.
O carnaval de rua em Sampa é um belo exemplo. De repente surge um trenzinho com a molecada se abraçando pela cintura. Vem um negro, um branco, um japoronga, o casal hétero, o casal gay.
Claro que o racismo persiste. Infelizmente, São Paulo continua sendo o palco mais perverso do racismo e da exclusão.
Mas surge também o reverso desse sentimento. Uma galera mais tolerante. Acostumada com as diferenças. Até na moda isso é perceptível.
Em certos points da cidade, percebe-se que sai o garoto marombado pagando de machão e surge a rapaziada simpática com camisa florida. Sai o homofóbico encrenqueiro e vem a galera mais acostumada com a diversidade. O babaca que beijava a menina a força já não faz mais sucesso. Em seu lugar tem o menino que sabe falar com respeito e educação.
Pra essa galera que chega, São Paulo não deve continuar sendo a "Cidade do Progresso". Obcecada pelo trabalho, careta, reaça, carrancuda.
As pessoas querem agora a cidade do bem estar social. Com equipamentos públicos, serviços eficientes e qualidade de vida.
Uma coisa não substitui a outra. As diferentes experiências sociais e os diferentes modos de vida convivem, nem sempre em harmonia, no mesmo tempo e espaço.
Mas é só olhar com atenção um domingo qualquer na cidade, seja na Paulista, no Ibira, nos shows ao ar livre, nos bloquinhos de carnaval pra se encher de otimismo.
Pra perceber que apesar de toda babaquice que ainda impera na cidade; do conservadorismo tolo; da velhocracia; da polícia violenta e higienista; apesar de tudo isso, podemos ser mais felizes e construir uma cidade mais humana e gostosa para todos e todas.
Rafael Castilho é sociólogo.