Correio da Cidadania

CPT, aquela que não deveria existir

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Por que um país que diz ter mais de 500 anos ainda arrasta ao longo da história seu pecado original, sem redenção?

 

O traço fundamental da história brasileira é o trato com a natureza e os povos originários, depois também os negros. Para controlar as riquezas e esses povos sempre foi preciso controlar seus territórios. A Lei de Terras de 1850 apenas consolidou o que estava gestado desde o princípio.

 

A disputa pelos territórios indígenas, de negros – depois seus remanescentes –, comunidades tradicionais, uma multidão de sem-terra num pais de 8,5 m²ilhões de km², atingidos por barragens, por mineração, além de pequenos agricultores sempre agredidos por latifundiários – agora pelo agronegócio -, fazem com que a CPT (Comissão Pastoral da Terra) permaneça há mais de 40 anos no cenário brasileiro. Não é só o passado, é o presente que se projeta para o futuro.

 

Num país civilizado a CPT não teria razão de existir, pelo menos na configuração que tem. Sua existência é a prova dos nove do atraso, do genocídio, da injustiça estrutural da terra que amarra o Brasil.

 

Em tempos de golpe a realidade se torna ainda mais obscura. O sonho senhorial de Brasil é extinguir essas populações. Quase conseguiram, mas a resiliência tem sido mais poderosa que os poderes da morte, embora as mortes ainda sejam tantas.

 

Papa Francisco nos pede que sejamos capazes de ver e celebrar também as pequenas conquistas. Muitas vezes precisamos de lupa para visualizá-las.

 

Mas, a agroecologia, a organização de tantos movimentos pela terra, a resistência dos pequenos agricultores, a insurgência atual dos indígenas – aqui o Cimi tem a palavra por excelência -, dos pescadores – onde o CPP tem também a excelência -, a conquista da água no Nordeste, a conquista de tantos territórios, ainda que não tenham mudado as estruturas, ao menos ajudam tanta gente a viver melhor. A CPT, de alguma forma, está presente nessas conquistas.

 

O melhor seria que a CPT tivesse vida curta e desaparecesse, tendo cumprido sua missão, desde que as razões que provocam sua existência desaparecessem do Brasil. Nem olhando o horizonte conseguimos vislumbrar essa possibilidade.

 

Que as Igrejas – particularmente a Católica -, a sociedade civil organizada, os que têm fome e sede de justiça – inclusive a Cooperação Internacional – consigam ter visão histórica e ajudem a Pastoral a cumprir sua missão enquanto for necessário.

 

 

 

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