Correio da Cidadania

Um impeachment sem crime e uma advogada de acusação blasfema

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A fim de conseguir seus objetivos, as forças políticas reacionárias brasileiras, sem nenhum crime comprovado (e os advogados de acusação sabem), usaram todas as artimanhas jurídicas para derrubar - com um golpe político parlamentar, tramado há anos de maneira traiçoeira e covarde - a presidenta, democraticamente eleita, Dilma Rousseff. Todos aqueles e aquelas que, de alguma forma, mesmo que minimamente, ousam ameaçar o projeto capitalista neoliberal, devem ser destruídos(as) e eliminados(as). É uma prática política diabólica. É uma iniquidade institucionalizada.

 

A grande maioria dos senadores e senadoras, com poucas e honrosas exceções, são políticos comprovadamente corruptos e oportunistas. Eles e elas não tinham moral para julgar e votar a condenação da presidenta Dilma.

 

Depois de receber a notícia da aprovação do impeachment, Michel Temer (nego-me a chamá-lo de presidente) esboçou um sorriso de satisfação irônico e, ao mesmo tempo, sádico. Parecia querer dizer: consegui! Antes e durante o processo do impeachment, Michel Temer comportou-se como um político covarde, traidor e golpista. Seu governo é o de um usurpador.

 

Infelizmente, o grande erro, raiz de todos os outros, dos governos de Lula e Dilma foi ter acreditado que as galinhas poderiam fazer alianças com as raposas.

Eleitores e eleitoras vamos gravar bem o nome dos senadores e senadoras que (sem crime comprovado) votaram a favor da condenação da presidenta Dilma, para que nas próximas eleições tais corruptos e oportunistas sejam banidos para sempre da vida pública. Vejam na internet a lista dos nomes desses políticos. Não merecem o nosso voto.

 

Nesse processo de impeachment, um fato que nos encheu a todos(as) de profunda indignação merece o nosso mais veemente repúdio: no dia 30 de agosto, na sessão do julgamento da presidenta Dilma, a advogada de acusação Janaína Paschoal abriu a fase de debates, fazendo um discurso encenado, repugnante e, ao mesmo tempo, ridículo. Foi uma farsa inadmissível e inaceitável.

 

Em seu discurso, Janaína - uma verdadeira advogada do mal (ao menos nesse caso) - usou todos os artifícios legais para tentar justificar aquilo que ela mesma sabe ser totalmente injusto. Vejam o que a advogada - numa atitude de desrespeito para com a presidenta Dilma e numa arrogância simulada de bondade, própria dos covardes - afirmou: "eu finalizo pedindo desculpas para a senhora presidenta da República não por ter feito o que era devido, porque eu não podia me omitir diante de tudo isso. Eu peço desculpas porque eu sei que a situação que ela está vivendo não é fácil. Eu peço desculpas porque eu sei que, muito embora esse não fosse o meu objetivo, eu lhe causei sofrimento. E eu peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela". Que cinismo! Que hipocrisia! É cruel e totalmente desumano uma advogada pedir a condenação da presidenta Dilma e dizer que o fez pensando em seus netos.

 

Janaína reafirmou que o processo de impeachment seguiu todos os ritos legais. "Para que o povo brasileiro tenha consciência tranquila de que nada fora do que é legal e do que é legítimo está sendo feito nesta oportunidade”. Que descaramento! Como pode uma advogada dessa laia falar em consciência tranquila?

 

A Janaína disse também que o processo de impeachment "é do povo". "É não só dos movimentos sociais que nos apoiaram, mas esse processo é de cada um dos brasileiros que se manifestou e deu forças para que conseguíssemos chegar até aqui”. Que mentira! Que falsidade! As lágrimas que derramou, numa cena teatral de choro, foram a expressão mais nojenta do fingimento.

 

Depois de aprovado o impeachment, a advogada afirmou que, com a saída de Dilma, tinha a sensação do “dever cumprido”. É o cúmulo do farisaísmo!

 

Em toda essa farsa diabólica, juridicamente muito bem orquestrada, ela declarou ainda: "foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas percebessem o que estava acontecendo no país" e se organizassem para iniciar o processo do impeachment.

 

Janaína Paschoal, como pessoa de fé e religioso, quero adverti-la: usar o nome de Deus para justificar as conspirações maldosas de políticos e seus advogados, é uma blasfêmia muito grave. Tome cuidado, advogada! Deus é justo! Aguarde!

 

Apesar das críticas que, na ótica dos pobres, já fiz e continuo fazendo aos governos Dilma, neste momento político - que nacional e internacionalmente envergonha o Brasil - manifesto total solidariedade e irrestrito apoio à presidenta injustamente condenada.

 

A esperança nunca morre e a luta continua! Com certeza, um dia haveremos de cantar: “Vitória, tu reinarás”!

 

 

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Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, é doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP), professor aposentado de Filosofia da UFG.

 

 

 

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