Um crime contra o patrimônio histórico de Goiânia
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- Frei Marcos Sassatelli
- 23/06/2017
A obra de Frei Nazareno Confaloni, dominicano, no Setor Coimbra (Goiânia - GO) é um conjunto arquitetônico que inclui a Igreja São Judas Tadeu (construída entre 1959 - 1965) e a Praça com o mesmo nome. Agredindo a Igreja está se agredindo a Praça e agredindo a Praça está se agredindo a Igreja.
O que há hoje é uma agressão à Igreja e à Praça ao mesmo tempo. Trata-se de um crime cultural contra Frei Confaloni, no ano do seu centenário de nascimento. Trata-se de um verdadeiro vandalismo, que revela a total falta de sensibilidade artística por parte dos responsáveis pela agressão.
Querem transformar a Praça inteira num estacionamento fechado. A todos e todas que têm um mínimo de bom senso, pergunto: dá para imaginar a Igreja de Frei Confaloni dentro de um estacionamento fechado? Querem também construir galpões (já iniciados) “colados” às paredes e às rampas da Igreja.
Novamente pergunto: dá para imaginar a Igreja de Frei Confaloni com galpões “colados” às paredes e rampas da própria Igreja? Tudo isso que está acontecendo é um absurdo inconcebível.
Antes da agressão, subindo as rampas da Igreja, tinha-se a sensação de levitar, passando do jardim da Terra (Praça) para o jardim do Céu (Igreja). Era um momento agradável de contemplação. Com a agressão (em andamento), subindo as rampas da Igreja, tem-se a sensação de se defrontar com o telhado dos galpões. É um momento desagradável de poluição visual.
Diante dessa gravíssima agressão a um patrimônio cultural de Goiânia (que é também de Goiás, do Brasil e do mundo), faço dois pedidos.
O primeiro é dirigido aos artistas, arquitetos, paisagistas e urbanistas de Goiânia. Organizem um movimento de resistência e não deixem acontecer tamanha agressão - que envergonha a cidade de Goiânia - contra o patrimônio cultural de Frei Confaloni.
O segundo pedido é dirigido ao Secretário Municipal de Cultura de Goiânia, Kleber Adorno, para que tome com urgência as providências cabíveis.
Secretário, sabendo de seu interesse pela questão da cultura, sugiro que:
1. Decrete - em homenagem ao centenário de nascimento de Frei Confaloni, artista plástico e pintor reconhecido nacional e internacionalmente - o tombamento imediato, em nível municipal, do conjunto arquitetônico, Igreja e Praça S. Judas Tadeu, solicitando às autoridades competentes que embarguem os trabalhos de agressão iniciados;
2. Crie uma Comissão (composta de artistas, arquitetos, paisagistas e urbanistas) com a incumbência de fazer um estudo sobre o projeto original do conjunto arquitetônico de Frei Confaloni (Igreja e Praça);
3. Recupere - a partir do estudo feito pela Comissão - o projeto original do conjunto arquitetônico de Frei Confaloni;
4. Revitalize a Praça - sempre a partir do estudo feito pela Comissão - com área verde, calçadas, bancos (em forma de círculo ou de quadrado) e o maior número possível de vagas para estacionamento.
5. Incorpore ao conjunto arquitetônico de Frei Confaloni somente os acréscimos posteriores que não agridem o projeto original, mas servem para lhe dar maior destaque e, ao mesmo tempo, para atender às necessidades de espaço físico da Paróquia.
Aproveito a oportunidade para pedir que seja tombada também, em nível municipal, a antiga Igrejinha São Judas Tadeu (Rua 242, ao lado da Praça, onde atualmente funciona a Secretaria da Paróquia), cuja construção é anterior à vinda a Goiânia de Frei Confaloni e que - reconduzida ao seu estilo original - valoriza a história, a cultura e a religiosidade do nosso povo.
Termino com a certeza que, diante do exposto, o Secretário Municipal da Cultura, Kleber Adorno, fará tudo o que estiver em suas possibilidades para preservar o patrimônio artístico e cultural de Frei Confaloni. O Direito à Cultura faz parte dos Direitos Humanos e deve ser promovido.
(Leia também na internet a minha “Carta aberta aos irmãos e irmãs da Paróquia S. Judas Tadeu e a quem possa interessar”).
Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, é doutor em Filosofia (USP), em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de filosofia da UFG.