Por uma sociedade humanizada
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- 25/10/2017
A situação política atualmente vivenciada no Brasil é preocupante. Quando se torna quase rotineira a votação na Câmara pelo prosseguimento ou não de investigação contra o Presidente da República, algo não está muito certo. O mais grave é o aparato que esse modelo de governabilidade encontra numa permanência no poder, fato que se constata numa base que serve de alicerce e sustentáculo, raiz composta por envolvidos em corrupção.
Reformas, novas propostas, se apresentam como um marco que deve ser deixado. Parece que a avalanche de novidade, manifesta numa agenda neoliberal, constituída de privatizações, valorização do tecnicismo, dentre outros males, chega para acentuar cada vez mais o escândalo da desigualdade.
O filósofo Manfredo Oliveira em artigo recente recorda que “o Brasil é um espetáculo de desigualdade e se situa entre os dez países mais desiguais do mundo”. Mas por que esse fosso lamentável permanece em constante estado de desenvolvimento? Ora, devido a uma estrutura sustentada pelos que justamente dominam.
“Encaminhar trilhões aos cofres do sistema financeiro dos super-ricos por duas décadas (governos recentes) significou impossibilitar investimentos públicos e privados. Daí os efeitos negativos na indústria, na infraestrutura pública, nos serviços urbanos, na saúde, na educação, tendo como efeito a degradação da qualidade de vida das pessoas... A brutal desigualdade de renda continua a ser o traço definidor do Brasil. A equipe econômica atual empenha-se no aprimoramento desta postura”, afirma Manfredo.
Pensar que oito indivíduos possuem mais riqueza do que metade da humanidade não é imaginação, é a realidade apontada pelo relatório “Uma economia para os 99%”, divulgado no início do ano e elaborado pela Oxfam.
Em declaração recente o Papa Francisco propôs uma civilização do mercado na visualização de uma ética. Observando a condição atual do país, as palavras do Papa são bastante oportunas: “o aumento endêmico e sistêmico das desigualdades e da exploração do Planeta, e o trabalho que não dignifica a pessoa humana são as duas causas específicas que alimentam a exclusão e as periferias existenciais”.
Será que a portaria que há pouco foi atestada pelo Ministério do Trabalho beneficia os trabalhadores ou facilita a manutenção de trabalho escravo? Isso não valoriza a dignidade do ser humano já tão maltratada pela negligência de oferta de serviços básicos.
Numa sociedade em que impera a primazia do que é “eficaz”, “produtivo”, vantajoso, o Papa alerta que “valores fundamentais como a democracia, a justiça, a liberdade... não podem ser sacrificadas no altar da eficiência”. E ensaia uma crítica ao Estado: “O Estado não pode conceber-se como único e exclusivo detentor do bem comum, não permitindo a corpos intermediários da sociedade civil de expressarem plenamente seu pleno potencial”.
Infelizmente, o cenário da conjuntura que domina hoje segue em pleno aperfeiçoamento. O questionamento fundamental que surge é se desse modo se pode ter uma sociedade humana.
Felipe Augusto Ferreira Feijão é estudante de Filosofia da UFC.
Felipe Feijão