Dia dos Pobres
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- Felipe Feijão
- 21/11/2017
O papa Francisco convocou para 19 de novembro o 1º Dia Mundial dos Pobres. O que significa? Uma comemoração da pobreza? Parece que não. Trata-se, antes de mais, de uma reflexão sobre a realidade que assola milhares de seres humanos.
Surge, então, uma questão fundamental: como identificar o pobre? O papa afirma em sua mensagem para o referido dia: “conhecemos a grande dificuldade que há, no mundo contemporâneo, de poder identificar claramente a pobreza. E todavia esta interpela-nos todos os dias com os seus inúmeros rostos marcados pelo sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pelas torturas e a prisão, pela guerra, pela privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e pelo analfabetismo, pela emergência sanitária e pela falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada!”.
Infelizmente, na realidade vivenciada num país como o Brasil, numa cidade como Fortaleza, é impossível, diariamente, não enxergar, a dignidade humana, sofrida e negligenciada. Tantas situações, tantos rostos sofridos, marcados pela dor, sobretudo pela indiferença, se apresentam nitidamente, nos mais diversos ambientes, ainda que estes adotem a educada política de segregação.
O filósofo Manfredo Oliveira afirma: “Vivemos em um país estranho, pois nele, no Brasil oficial, apenas uma parcela minoritária de sua população é incluída. Coexistem, no mesmo território, uma sociedade moderna, que cada vez mais se aproxima, econômica e culturalmente, dos países mais ricos do mundo, e uma sociedade primitiva, com milhões de habitantes vivendo nas cidades e nos campos em condições de vida que humilham a pessoa humana” (1).
Em virtude desse dia, surgem algumas perguntas. O percurso que cada vez mais é seguido pelo modelo governamental vigente, se volta para os vulneráveis? A agenda neoliberal que cada vez mais se explicita em privatizações, transformação de serviços públicos em produtos que se vendem e compram no mercado, valorização da educação tecnicista e medidas que beneficiam os poderosos em detrimento dos mais fracos, são do interesse de quem?
Ora, num Congresso Nacional consideravelmente constituído por envolvidos em corrupção e investigados ou denunciados, não existe interesse para que as demandas populares sejam minimamente atendidas. Há, sim, interesse de grupos estratificados especificamente em defesa de representação própria.
Felizmente, um dia dedicado aos pobres supõe a possibilidade de reflexão sobre essa evidente situação.
Nota:
1) OLIVEIRA, Manfredo. Desafios éticos da globalização. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 5.
Felipe Augusto Ferreira Feijão é estudante de Filosofia da UFC.