Correio da Cidadania

Fazendo memória e projetando o futuro

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Nos dias 4 e 5 de novembro do corrente ano, às vésperas do cinquentenário da Conferência de Medellín, 51 irmãos e irmãs da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil estivemos reunidos pelo 28º ano no Instituto São Francisco, em Goiânia. Viemos de seis estados brasileiros, do Distrito Federal e do Chile. Ao final de mais um triênio no caminho da Justiça e Paz, “fizemos memória dos passos dados, fomos descobrindo que o Senhor sempre acendeu luzes quando precisávamos delas, e projetamos o futuro”.
    
Abrindo o encontro, “foram partilhadas carinhosas e proféticas mensagens de algumas de nossas irmãs e irmãos que não puderam estar entre nós”. No momento em que vivemos, “fomos interpelados a refletir sobre a nossa responsabilidade enquanto pessoas e Comunidades do Evangelho na tradição dominicana”.
    
Durante o Encontro, sentimo-nos chamados “a aceitar o convite de Deus para continuar a ter esperança mesmo em tempos de crises”. Para enfrentar os desafios que a realidade nos apresenta, baseados e baseadas na experiência do nosso trabalho, “sentimo-nos animados e animadas a:

- resistir ao avanço da ‘mercantilização’ da vida;

- desenvolver uma espiritualidade ecológica libertadora à luz da nossa luta por Justiça e Paz;

- recriar espaços da política, com ética, poética e ternura;

- criar novos movimentos de base, ecológicos, anticapitalistas, antirracistas e feministas”.

Como irmãos e irmãs - “para continuar a nossa caminhada rumo a Terra Sem Males, construindo o Reino de Deus aqui e agora” - assumimos, juntos e juntas, as seguintes bandeiras:  

1.    Ação Política: “participar e intervir nos espaços de discussão e encaminhamentos das políticas públicas em vista de seu fortalecimento; realizar ações críticas e propositivas nos próximos processos eleitorais; retomar as Escolas de Fé e Política, com enfoque para o fortalecimento da democracia e dos direitos, com destaque para as reformas política, administrativa e judiciária; atuar em parceria com movimentos populares, Pastorais Sociais, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e outras organizações das Igrejas e da sociedade civil; incentivar e intensificar o trabalho de base”.

2.    Direitos Humanos: “trabalhar pelo respeito em relação às diversidades; atuar na luta contra o trabalho escravo, a violência no campo e na cidade, pela reforma agrária e urbana; incentivar e promover a cultura da paz e dos direitos humanos”.

3.    Ecologia: “Pensar o bem viver e o bem conviver na perspectiva do enfrentamento do desafio do desenvolvimento versus natureza; enfocar a questão da água como direito e como alimento, articulando com a crise ambiental; fomentar e apoiar rede de consumidores de produtos agroecológicos; criar espaço nas paróquias e casas (eventos, merenda nas escolas e outros) para feiras de produtos da agricultura familiar”.

4.    Juventudes: “promover encontros com jovens de paróquias e colégios na perspectiva de justiça e paz, com participação dos jovens da Comissão; orientar os projetos de ação social apoiados pela Comissão para apoio às iniciativas da juventude; promover o protagonismo e participação das juventudes.

5.    Formação e Educação: “Promover encontros anuais com leigos(as) representantes de paróquias e colégios sobre Justiça, Paz e Direitos Humanos; produzir conhecimentos, articulando saberes acadêmicos e populares; apoiar e promover formação política de lideranças; criar ou fortalecer Grupos de Acompanhamento ao Legislativo (GALs), em nível de municípios e estados; desenvolver metodologias novas, participativas e democráticas”.

6.    Espiritualidade libertadora: “promover leituras, formações e celebrações inspiradas pela justiça e paz, no âmbito do laicato e da formação inicial da vida consagrada religiosa; promover estágios de vivências em situações de fronteiras, nas etapas de formação inicial e permanente; incentivar o trabalho ecumênico, o diálogo entre/com crentes e não crentes; retomar o testemunho dos mártires e cultivo da memória de nossas lutas coletivas”.

7.    Articulação da Comissão: “investir na articulação regional dos trabalhos; continuar com a responsabilidade da edição brasileira do Livro-Agenda Latino Americana Mundial; realizar ações de solidariedade entre os membros da Família Dominicana e com demais agentes e entidades parceiras; continuar promovendo a Semana de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno; investir na comunicação e divulgação das causas de justiça e paz”.

Por fim, “reafirmamos que a nossa pertença à Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil é fruto do compromisso com o nosso batismo” e queremos ser - com a Igreja dos Pobres - “uma Comissão em saída, para encontrar Deus na natureza, no outro, no social e na luta” (Carta final do 28º Encontro da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil. Goiânia, 05 de novembro de 2017).
Em tempo:

- Frei Henri des Roziers, frade dominicano - que trabalhou quase 40 anos no combate ao trabalho escravo, na luta pela reforma agrária e pelos direitos humanos no Brasil - morreu (completou sua Páscoa) no dia 25 deste mês em Paris, no Convento onde passou os últimos quatro anos de sua vida, “com saúde frágil, uma atenção plena e uma alegria invejável” (veja a íntegra da Nota da Coordenação da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, da qual Frei Henri era membro: “Morre Frei Henri, um Las Casas de nossos dias”. Goiânia, 26 de novembro de 2017).

- Semana dos Direitos Humanos em Goiás: de 30 de novembro a 14 de dezembro de 2017 (realização: Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno). Programação em: http://cressgoias.org.br/noticias/356-semana-dos-direitos-humanos-em-goias-2017.

10 de dezembro é o Dia Internacional dos Direitos Humanos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 10 de dezembro de 1948. Artigo 1º: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e em direitos humanos. Dotadas de razão e de consciência, devem agir umas para com as outras em espírito de fraternidade”. Dom Tomás Balduíno: "Direitos Humanos não se pede de joelhos, exige-se de pé”.


Frei
Marcos Sassatelli, frade dominicano, é doutor em Filosofia (USP), em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de filosofia da UFG.

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