Correio da Cidadania

Sobre a previsibilidade da recrudescência da febre amarela

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Patologia antiga, muito antiga. Já controlada entre os países mais miseráveis do mundo. Era previsível esta situação? Havia como impedi-la?

Vamos à gênese.

Quando se congelam verbas para a saúde em sua atenção básica e primária e em programas de profilaxia e prevenção de doenças, é sabido que teremos um reavivamento destas enfermidades.

O que ocorreu nos níveis federal e municipal foi o corte de programas de atenção básica à saúde (o que inclui programas de imunização), com um desmonte da Saúde Pública.

A Saúde Pública é quem controla o retorno desta afecção e também é sabido que a tal Febre Amarela hoje raramente leva ao óbito, mesmo nos países mais miseráveis do mundo.

Pois conseguimos retornar ao estágio de registrar mortes por uma doença que já não matava e cujos casos eram raríssimos.

Mas era totalmente previsível, basta olhar para trás. Diante das mesmas condições climáticas, há um ano, houve este surto?
 
As verbas para a saúde já estavam muito aquém do necessário. Porém, como diz o ditado, tudo pode piorar.

Meu objetivo nesta breve reflexão não é discorrer uma tese sobre sintomas e tratamentos, mas sim falar sobre POLÍTICAS PÚBLICAS não apenas ineficientes, mas desastrosas para uma população tão sofrida, que não tem sequer o mínimo existencial.

Como médica, me envergonho publicamente, me envergonho por tanto ter estudado em uma Universidade de renome, por ter me especializado e, em algum momento, ter-me calado diante da tragédia anunciada!

Em breve, se continuarmos a seguir nesta direção, teremos a volta de outras doenças, quem sabe mais antigas... Com tristes e evitáveis óbitos!

Que em algum canto do Brasil médicos não se calem, pois dentro da saúde está a humanização.

E isto significa olhar para o povo, aquele que tem menos, pois quando se tira algo nesse país, sempre se tira de quem tem menos.

O desmonte da Saúde Pública um dia atingirá a todos, inclusive os "inatingíveis", pois lentamente quem pensou que tirar o mínimo necessário à sobrevivência dos mais carentes também sentirá em seus bolsos e corpos que não foi um bom negócio.

Mas ainda espero não ver esse dia chegar. Espero, isso sim, o retorno de verbas em Programas de Saúde de Atenção Básica!


Melina Pecora é médica e advogada.

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