Círculos infernais
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- Vera Rodrigues
- 12/02/2019
É um ciclo de produção de sofrimentos e transtornos psíquicos. O país enterra seus mortos, seja por crimes cometidos por empresas como a Vale, por prefeituras que não usam a verba destinada à prevenção de enchentes - como é o caso do Rio de Janeiro -, por instituições que negligenciam prevenção a incêndios ou em decorrência dos extermínios diários de pobres, negros e povos indígenas.
Mas as pessoas não conseguem processar o luto, não têm tempo para respirar, porque a demanda pela sobrevivência diária permanece inalterada.
Fora isso (como se fosse pouco a elaborar), a jamanta que desce a ladeira em alta velocidade atropela os direitos mais básicos de cidadãs, cidadãos, aposentadas/os ou na ativa, estudantes ou desempregados.
Como solução para todos os males, oferece-se mais encarceramento, mais extermínio, mais violência policial, mais concentração de terras, mais veneno e armas para quem pode pagá-las.
Além das indústrias bélicas e de segurança, do agronegócio, de bancos e oligopólios quem vai lucrar muito são os laboratórios e as igrejas, porque só às custas de muita anestesia e alienação várias pessoas conseguirão sobreviver.
E a responsabilidade por todos esses processos adoecedores será sempre individualizada, de modo que para isso providencia-se a volta dos manicômios.
Nesse contexto, sugiro que se pare de cobrar ainda mais de quem precisa de oxigênio. "Cadê as pessoas nas ruas"? pergunta-se, com frequência. Vejam o que aconteceu com professoras(es) em São Paulo, quinta-feira, 6.
Qualquer ação direta requer apoio da população. A mesma que elegeu o que está aí. Tem muito trabalho a ser feito, antes de se conseguir alguma mobilização. E esses processos exigem TEMPO. Mais respeito aos limites de cada um seria fundamental.
Vera Rodrigues é psicóloga e psicanalista.