Correio da Cidadania

Devemos comemorar o dia do professor?

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Foto: Centro do Professora Paulista

Passei o dia inteiro pensando no que escrever ou se deveria escrever algo acerca do dia dos professores. Na verdade, meu consciente passou o dia tentando me convencer que, de mim, não havia nada para escrever ou dizer.

O 15 de outubro de 2019 foi meu quarto dia do professor como docente efetivo e a cada ano que passa eu tenho menos vontade de comemorar. Não me entendam mal, eu não estou frustrado com a minha profissão, pelo contrário, estou satisfeito com a nova escola e a nova fase que se iniciou no meio desse ano.

Meu problema central talvez seja com a maioria dos colegas professores e com a maioria dos alunos que insistem em glorificar essa data. Talvez, da parte dos professores, inconscientemente, querem reafirmar que seu trabalho na escola é “importante” e que está fazendo um “bem” à humanidade.

Não, não estamos. Gostem ou não, o professor existe como qualquer outro trabalhador na engrenagem do capitalismo. Nós não estamos transformando vidas, nós não estamos iluminando pessoas. Nós estamos matando tempo na escola enquanto nossas crianças não atingem a idade suficiente para serem exploradas pelos meios de produção capitalista.

Recentemente terminei a leitura do “A educação para além do Capital”, de Istvan Mészáros, uma leitura imprescindível para quem estiver lecionando ou tem a pretensão de lecionar. Não entrarei em detalhes acerca do que Mészáros discorre nesse ensaio, mas duas coisas que ele aponta considero fundamentais para entendermos o atual cenário da educação no Brasil: primeiro, a formação dos professores; segundo, a estrutura atual do capitalismo. Nesta, não há como ocorrer uma educação transformadora.

Como estão sendo formados os professores? Quais são as instituições que formam esses professores? Será que os professores possuem de fatos as competências para lecionarem?

O mais importante acerca do que Mészáros nos proporciona em seu texto é que se o professor é formado em uma estrutura que não o permite pensar além dos arcabouços capitalistas e do atual cenário de opressão - machista e racistas -, ele vai reproduzir esses dogmas e estereótipos sem contestá-los, logo formando indivíduos que reproduzirão o modus operandi do sistema.

A escola, no Brasil, desde, pelo menos, a Constituição Federal de 1988, tem sido pensada para criar indivíduos que serão preparados para o mercado de trabalho. Restou para as classes subalternas a escola pública, que, precária e sem investimentos, fornece ao estudante o mínimo para ele exercer funções que exigem pouco ou nada de sua capacidade intelectual.

No sistema capitalista são permitidas e incentivadas as exceções. O acesso, raro, às universidades com maior qualidade de ensino de jovens de periferias possibilita a formação de professores mais comprometidos com um ensino crítico e contestação dos paradigmas da sociedade capitalista cristã ocidental. Porém, as pequenas exceções não mudam em nada o núcleo do objeto aqui apontado. Assim, são poucos os estudantes que de fato os professores conseguem transformar em cidadãos conscientes de como funciona o meio em que eles vivem.

Lembrar o dia dos professores sem fazer uma crítica ao sistema estrutural da nossa sociedade e o felicitá-lo por seus atos classificando-os como “feitos heroicos“ é apenas concordar com o sistema que nos oprime diariamente em sala de aula e em cada função dos demais trabalhadores.

Por fim, é importante lembrar que nem todo professor quer a emancipação política, cultural, social e econômica do seu aluno.

Carlos Eduardo Boaretto Pereira é professor da rede pública do estado de São Paulo.

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