Correio da Cidadania

Cem dias de dor e sofrimento por trás dos números

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“É melhor ser infeliz, mas estar inteirado disso, do que ser feliz e viver como um idiota” - Fiódor Dostoiévski (1821-1881)

Todas as manhãs, nos últimos 100 dias, a população brasileira teve acesso, livre e irrestrito, ao Diário da Covid-19, publicado na página do Projeto #Colabora, com material quantitativo e qualitativo sobre a pandemia do novo coronavírus, trazendo os fatos nacionais e internacionais mais relevantes para a compreensão do panorama atual. O #Colabora é um projeto que aposta na produção e na difusão de informação de qualidade com base em uma visão de sustentabilidade e justiça social, fundamentada nos princípios dos direitos humanos e ambientais. Desde 2019, tem atuado em sintonia com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Neste momento, o Objetivo 3, que trata da Saúde e do Bem-Estar e que tem como meta “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades”, serve de norte para a situação contemporânea.

Foi com base nestes conceitos e compromissos que criamos o Diário da Covid-19, com análises de dados e de tendências da emergência sanitária, econômica e também ecológica, pois todas as atividades e todas as pessoas do Planeta foram afetadas pela nova realidade global. O primeiro texto do Diário foi publicado no dia 6 de abril de 2020 quando, em números acumulados, o mundo tinha 1,33 milhão de casos e 78,6 mil mortes e o Brasil tinha 12.056 casos e 553 mortes. O avanço da pandemia foi impressionante nestes 100 dias que tiveram grande impacto na comunidade internacional.

Neste Diário da Covid-19 de número 100, o mundo chegou a 13,5 milhões de casos e 580 mil mortes e o Brasil chegou a 1,93 milhão de casos e 74,1 mil mortes. Ou seja, em uma centena de dias, no mundo, o número acumulado de casos foi multiplicado por 10 vezes e o de mortes por 8 vezes e, no Brasil, os casos foram multiplicados por 160 vezes e os óbitos cresceram 134 vezes.

O panorama global da covid-19

Como reportamos ao longo da série, a pandemia do novo coronavírus surgiu na China, ainda no final de 2019 e ganhou uma grande dimensão nos meses de janeiro e fevereiro. Mas o país tomou medidas fortes para evitar a propagação do vírus e conseguiu reduzir a quantidade de mortes para níveis próximos de zero já no início março. A Coreia do Sul teve o pico da pandemia em março, mas também conseguiu controlar a pandemia em abril. Todavia, nos meses seguintes a pandemia do Sars-CoV-2 se espalhou pelo mundo.

No gráfico abaixo, a curva do número de casos parecia que iria se inverter em meados de maio e começar a decrescer, porém, manteve a tendência de alta e acelerou a subida. Nos primeiros 14 dias de julho, o número médio de pessoas infectadas ficou em 207 mil novos casos, acrescentando mais de 1 milhão de casos a cada 5 dias. A curva de mortes, que atingiu um pico de cerca de 8 mil óbitos diários no início de abril, iniciou uma tendência de baixa até aproximadamente 4 mil óbitos diários no final de maio, mas inverteu a tendência e subiu para algo em torno de 5 mil óbitos diários atualmente.

Ou seja, a pandemia que parecia estar perdendo fôlego com a redução dos casos e das mortes, principalmente da Ásia e da Europa, voltou a apresentar uma aceleração em função principalmente do avanço nas Américas.


A figura abaixo, do jornal Financial Times, apresenta a média móvel de 7 dias do número diário de mortes em diversos países e regiões do mundo, começando em meados de março, quando o peso do leste asiático já era muito pequeno. Entre março e abril, a Europa e os Estados Unidos (EUA) passaram a concentrar a maior parte das mortes diárias provocadas pela covid-19, mas a partir do mês de maio o destaque coube à América Latina.

A forma da figura reflete o fato de que o número médio de mortes diárias no mundo era de 393 óbitos entre 15 e 21 de março, passou para 7,5 mil mortes diárias em meados de abril, caiu para 3,8 mil no final de maio e voltou a subir para 4.947 na semana de 7 a 13 de julho.

A Europa e os EUA respondiam por apenas 6% das mortes diárias em 29 de fevereiro, mas deram um salto para cerca de 80% em meados de março e para 90% na primeira quinzena de abril. Mas ambos passaram a ter uma menor participação nos meses seguintes e na semana de 23 a 29 de junho a Europa respondia por 10%, os EUA por 12% e a América Latina e Caribe (ALC) por 52% das mortes diárias. Na América Latina os destaques são: Brasil, México, Peru e Chile.

No mês de julho o número de mortes voltou a subir nos EUA (que passaram a responder por 14% dos óbitos diários na semana de 7 a 13/07) e também na Índia, Irã e África do Sul, além de outros países do Sul da Ásia, do Oriente Médio e da África. Ou seja, a quantidade de mortes diárias no mundo, que estava caindo para a faixa de 4 mil óbitos, voltou a subir para cerca de 5 mil óbitos.

Por conta de tudo disto, a revista The Economist (04/07/2020), considera que a pandemia da covid-19 veio para ficar e as pessoas vão ter que se adaptar a nova realidade. Citando uma pesquisa, realizada em 84 países, por uma equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a revista britânica mostra que para cada caso registrado do novo coronavírus, 12 outros não são registrados e, para cada duas mortes, um terço é atribuído a outras causas. Sem a descoberta de uma vacina eficaz, o número total de casos no mundo poderá chegar a um montante entre 200 a 600 milhões de pessoas infectadas até junho de 2021, com algo entre 1,4 a 3,7 milhões de óbitos.

Na mesma linha de preocupação, o diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse recentemente: “o pior ainda está por vir”. No dia 11 de julho, também a prestigiosa revista científica The Lancet, disse em editorial que “o pior ainda está por vir”, reforçando o entendimento de que o montante de casos e mortes pode aumentar e o controle da pandemia no mundo ainda vai demorar vários meses.

O panorama nacional

O Ministério da Saúde do Brasil informou, na terça-feira (14/07), que o país chegou a 1.926.824 casos e 74.133 vidas perdidas, com uma taxa de letalidade de 3,8%. Foram 41.857 novos casos e 1.300 mortes em 24 horas. Para se ter uma ideia, 100 dias atrás, no dia 6 de abril de 2020, o número acumulado de casos era de 12.056 e o número acumulado de mortes era de 553. Ou seja, atualmente o Brasil está tendo muito mais pessoas infectadas e mais mortes diárias do que os números acumulados da época que este Diário começou.

Os primeiros casos registrados de pessoas com o coronavírus ocorreram nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, mas a pandemia se expandiu rapidamente para as capitais das regiões Norte e Nordeste. No final de abril a média móvel de 7 dias do número diário de pessoas infectadas estava na casa de 5 mil casos e passou para a casa dos 20 mil casos diários no final de maio, como mostra o gráfico abaixo.

Nos primeiros 10 dias de junho o número médio de casos passou para a casa de 26 mil e apresentou uma ligeira queda nos dias seguintes, em função do menor ritmo de avanço da pandemia nas capitais do Sudeste, Nordeste e Norte. Mas na última semana de junho o número médio subiu para a casa de 30 mil casos, em decorrência da interiorização da pandemia. O recorde diário de infectados aconteceu no dia 19/06 com cerca de 55 mil casos. Nos primeiros 14 dias de julho o número médio foi para a casa de 37 mil casos diários, com o avanço da pandemia nas regiões Sul e Centro-Oeste e no estado de Minas Gerais. Atualmente, o número de casos está estacionado neste alto platô, sem uma tendência clara de subida ou descida.



O gráfico abaixo, também do Financial Times (em escala logarítmica), mostra que os EUA lideram o número acumulado de casos, seguido pelo Brasil – que está à frente da soma de todos os países da União Europeia. A Índia já ultrapassou a Rússia e o México está a ponto de ultrapassar o Peru e o Chile. Atualmente, o Brasil está em segundo lugar tanto no número de casos acumulados, quanto no número de casos diários.