Presidente: “o tirano que mata nossa gente”
- Detalhes
- Frei Marcos Sassatelli
- 15/07/2021
"E daí? Quer que eu faça o que", disse o presidente em 28 de abril de 2020.
“Senhor, tu que fugiste de jegue para o Egito, mostra-nos um meio de nos livrar desse fascista brasileiro. Tu que entraste em Jerusalém montado num jumento, dá-nos a coragem de enfrentar o tirano que mata nossa gente. Livra-nos, Senhor, do desgoverno da morte. Está pesado demais” (Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, 13/06/21).
Com Leonardo Boff e fazendo minhas suas palavras, “uno-me nesta oração para que Deus e a Mãe Terra tenham piedade de sua gente e nos livrem de quem está produzindo um holocausto”.
No dia 19 deste mês de junho, o Brasil - com uma população de 214 milhões - registrou 500 mil mortes pela Covid-19. “É a maior tragédia brasileira. Nunca houve um evento tão mortífero quanto a pandemia do novo coronavirus (mesmo com subnotificações). Foram 195 mil vidas perdidas em 2020 e já são mais de 300 mil em 2021... Das 500 mil mortes, 150 mil foram de pessoas abaixo de 60 anos e 350 mil de idosos (60 anos e mais), sendo 280 mil homens e 220 mil mulheres”. Um verdadeiro massacre!
Segundo estudo do professor e epidemiologista Pedro Hallal, das 500 mil mortes, 375 mil (ou seja, 3 em cada 4) poderiam ter sido evitadas caso o Brasil tivesse adotado uma política de saúde - científica e tecnicamente planejada, com medidas de controle da pandemia (como vacinação eficiente, isolamento social e uso de máscaras) - que colocasse a vida em primeiro lugar. O principal responsável por essas mortes é Jair Bolsonaro, que - a toda hora - fala o nome de Deus em vão para, hipócrita e oportunisticamente, acobertar e legitimar seu comportamento político criminoso.
Infelizmente, estamos diante do desgoverno de um presidente frio e insensível, cínico e assassino, para o qual a vida dos seres humanos - sobretudo dos pobres - e da Mãe Terra não vale nada. Além de tudo, com suas palavras e seus atos, debocha da gravidade da pandemia e demostra ser uma pessoa totalmente desiquilibrada.
Comparemos as 500 mil mortes pela Covid-19 do Brasil com as de outros países que têm uma população similar. Conforme foi divulgado nas redes sociais, na Indonésia - com uma população de 276 milhões - as mortes foram 54 mil; no Paquistão - com uma população de 225 milhões - as mortes foram 22 mil; na Nigéria - com uma população de 211 milhões (quase igual à do Brasil: 214 milhões), as mortes (reparem!) foram 2 mil; no Bangladesh - com uma população de 166 milhões - as mortes foram 13 mil. Esse quadro não precisa de comentários, fala por si mesmo.
Em 19 deste mês de junho - dia no qual o país atingiu 500 mil mortes - a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o lema “toda vida importa”, realizou um tempo de sensibilização em memória dos mortos pela Covid-19 - manifestando conforto, solidariedade e esperança - e fez a seguinte Oração (que é nossa também):
Pai de bondade!
Há mais de um ano, temos chorado por tantos irmãos e irmãs
que a triste e violenta pandemia arrancou de junto de nós.
Chegamos agora a quinhentos mil mortos.
Não são apenas números! São pessoas!
São nossos filhos e filhas, irmãos, irmãs, amigos, parentes, conterrâneos.
Sabemos que uma única morte já é suficiente para entristecer nossos corações.
Quanto mais todas essas mortes,
muitas vezes sem o mínimo necessário
para o tratamento digno como ser humano.
Por isso, vos pedimos:
acolhei cada um desses filhos e filhas e concedei-lhes a paz eterna!
E a nós dai a graça de trabalhar por um mundo onde se respire
solidariedade, acolhimento, partilha, compreensão e resiliência.
Que nossas lágrimas nos lavem da indiferença, do egoísmo e da omissão!
Que a saudade seja estímulo à fraternidade!
E que a fé seja o sustento de nossa esperança!
Pela intercessão da Virgem Mãe Aparecida,
olhai pelo Brasil, olhai pelo povo brasileiro.
Amém.
Frei Marcos Sassatelli é frade dominicano e teólogo.