Em memória de Pedro e Vagner
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- Frei Marcos Sassatelli
- 15/02/2022
Em 16 de fevereiro de 2005, 14 mil pessoas foram brutalmente despejadas da Ocupação Sonho Real, no Parque Oeste Industrial, em Goiânia (GO), através da Operação Noturna Criminosa da Polícia Militar, provocando inclusive o assassinato de Pedro e Vagner (Livro-Agenda Lat.-americana Mundial 2022).
A data - por representar uma das piores barbáries humanas não só da história de Goiânia, mas também do Brasil e do mundo - entrou, há anos, no calendário latino-americano mundial, para que sua memória não seja esquecida e nunca mais se repita uma barbárie como essa. Fazer sua memória - ou seja, torná-la presente - fortalece a resistência e a luta do povo por seus direitos.
O direito à moradia digna é um direito fundamental e sagrado de toda pessoa humana e, consequentemente, o direito à ocupação de terras sem função social, “largadas” para fins de especulação imobiliária.
A desocupação ocorreu através da cinicamente chamada Operação Triunfo, que contou com a mobilização de 1,8 mil militares. A ação policial durou cerca de uma hora e trinta minutos e - pelo seu nível de maldade e crueldade - foi uma verdadeira operação de guerra nazista contra os pobres. Durante o massacre, Pedro Nascimento da Silva, de 27 anos (companheiro da lutadora Eronildes) e Wagner da Silva, de 20 anos, foram mortos a tiros. 40 pessoas foram feridas a bala (ficando uma paraplégica) e 800 foram detidas. Várias pessoas desapareceram e, por isso, levantou-se a suspeita de mais vítimas fatais não identificadas.
Antes da Operação Triunfo, a Polícia Militar realizou - de 0 às 6h e por 10 dias - a também cinicamente chamada Operação Inquietação com o intuito de assustar os moradores (muitas crianças ficaram traumatizadas) e desmobilizá-los. Pelo requinte de crueldade e perversidade, foram duas Operações diabólicas. Os responsáveis pela Operação Triunfo tiveram o descaramento de dizer - citando São Paulo - que os militares “combateram o bom combate”: uma verdadeira blasfêmia.
Após o despejo, durante a permanência dos Sem-Teto nos Ginásios do Novo Horizonte e da Capuava (três meses) e no Acampamento provisório do Grajaú (três anos), várias pessoas morreram por causa das condições insalubres de vida. Não dá para entender como tamanha barbárie humana possa ser até hoje impune! É realmente inacreditável! Os principais responsáveis por essa barbárie foram o Governador Marconi Perillo com seu Secretário de Segurança Pública, Jonatas Silva e o Prefeito Iris Rezende Machado.
Acompanhei pessoalmente a diabólica operação de guerra, abraçando os Irmãos/as e partilhando sua dor. O lado de Jesus de Nazaré é o lado dos Pobres e o lado dos Pobres é o nosso lado. Unidos e unidas lutamos pelos três “T” (papa Francisco): Terra, Teto e Trabalho. Pedro e Vagner: PRESENTES!
Frei Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Goiânia, 16 de fevereiro de 2022