Chegou a hora da nossa visibilidade
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- Sassá Tupinambá, Coluna Imbaú
- 09/08/2022
Durante muitos anos, no Brasil, Indígenas são expuls@s de suas terras e territórios. A coisa já começou a complicar desde a notícia ao rei de Portugal da chegada das caravelas portuguesas aqui em Pindorama. Logo no primeiro comunicado ao monarca, Pero Vaz de Caminha cunhou o verbete "pardo" para classificar a cor da pele das pessoas que já viviam aqui.
Éramos mais de 1000 povos, com culturas diferentes, línguas diferentes, enfim, relações diferentes com a natureza, e fomos tod@s reduzid@s à classificação "pard@s" naquele momento.
Nos dias atuais, a invisibilidade da existência e resistência de, pelo menos, 400 povos existentes no "território brasileiro" se dão com o uso do verbete "indígena", mas não é só. Há uma crença coletiva, disseminada pelas escolas, durante os últimos 100 anos, de que "lugar de índio” (esse é outro termo de apagamento dos povos originários) é na floresta e que se está fora da aldeia deixa de ser.
Você já parou pra pensar o porquê isso acontece? Você já ouviu falar em grilagem de terras? Pra entender, é importante conhecer alguns trabalhos de pesquisadores, como Eduardo Carlini, acompanhar a página De Olho nos Ruralistas e pra quem gosta de por a mão na massa, procure pela plataforma do registro do CAR. Assim, irão entender o motivo de o Brasil querer invisibilizar a população indígena que vive em seu território.
É por isso que diversas lideranças indígenas que vivem em contexto urbano estão, desde 2019, orientando a população indígena que vive em Contexto Urbano a utilização do direito de se autodeclarar.
É pelos dados colhidos no censo que surgem as políticas públicas de moradia, de saúde, de educação, de distribuição de renda, como o Bolsa Família, e até saber quantas doses exatas de vacina o Brasil necessita. Por isso é muito importante o censo para nós.
Mas racistas, anti-indígenas se candidataram para trabalhar no censo 2022. Recenseadores estão impedindo que indígena possam utilizar o direito ao censo como indígena
Não acredite que seja um problema do sistema. O problema é com o agente recenseador do IBGE, provavelmente etnocida, racista, compartilha das ideologias anti-indígenas do governo brasileiro. Não caia nesse golpe! Toda pessoa tem o direito ao censo, pois se trata de uma política pública.
Toda pessoa indígena, mesmo que não saiba falar a língua e mesmo que não saiba o nome de sua etnia tem o direito de declarar ser indígena, mesmo as que não moram em aldeias, inclusive as que já nasceram fora das aldeias. Não deixe de cobrar esse direito na hora de responder a entrevista do censo. Indígena é indígena em todo lugar!
Parentes, acabamos de fazer dois testes com dois recenseadores diferentes e foi feito, normalmente, o censo de duas famílias indígenas, que vivem em contexto urbano. Portanto, não tem nada no sistema que impeça que a pessoa se autodeclare indígena. Apenas desconfiamos que racistas estão impedindo a autodeclaração.
A orientação do IBGE em caso de agente recenseador(a) dizer que não está aceitando a autodeclaração indígena é:
1. pegar os dados do crachá do agente do IBGE que estiver fazendo a entrevista e pedir pra tirar uma foto com o celular;
2. pedir para o agente fazer o cadastro de sua residência para dar continuidade pela Internet e ou Ligar no 0800 721 8181 e solicitar outro recenseador;
3. denuncie o ocorrido no 0800.
O recenseador não pode:
1 - pedir documentos comprobatórios de etnia, cor ou gênero;
2 - induzir sua resposta ou modificá-la;
3 - marcar uma informação diversas daquela que você afirmou.
Caso isso aconteça basta ligar para 0800 721 8181 e solicitar outro recenseador. O 0800 vem escrito no colete dele
Veja o que a Coordenadora do IBGE diz sobre isso no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=b6Fl6Da6gBA
Sobre o pardismo veja o que o Ailton Krenak nos diz:
Veja o que antropólogos falam sobre o pardismo:
Veja o que juristas falam sobre a autodeclaração indígena:
E veja o que indígenas falam sobre a autodeclaração:
A Coluna Imbaú é um espaço aberto no Correio da Cidadania junto de organizações e indivíduos indígenas de 13 etnias diferentes, com a finalidade de divulgar as produções e o pensamento dos povos originários brasileiros e suas pautas.
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