Chega da fabricação de consensos fascistas
- Detalhes
- Marta Bellini
- 30/03/2023
As mídias hegemônicas das duas últimas semanas de março de 2023 querem estampar seu primeiro truque de capa dos jornais e seus sites. Trata-se da fabricação dos cem dias do governo Lula. A manchete poderia ser “Os cem dias de luta com os juros mais altos do planeta”. Mas não será assim notícia.
As manchetes e os conteúdos midiáticos farão um escândalo: nas suas páginas aparecerá o retrato de um governo que não avançou, não atendeu ao mercado, esse ser “inanimado” cheio de rentistas com dentes afiados e brilhantes de ouro.
Ao lado do nosso governo passam os mais diversos grupos de fascistas arregimentados nos anos de 2016 a 2022. Desde o dia 8 de janeiro, muitos militares, empresários, as elites de diversos segmentos políticos e econômicos, circulam pelas mídias propondo vergonhosamente um Estado para apenas uma parcela, a menor, deste país, o grupo dos ricos, milionários, bilionários.
O resto da população, a maior parte, fica fora amargando o desemprego e os altos juros, uma dupla econômica que dinamita as vidas de qualquer trabalhador ou trabalhadora com muito sucesso.
É o novo fascismo cuja raiz é alimentada pelos jornalões, intelectuais de direita das principais redes televisivas, pelos institutos neoliberais, inclusive de educação, como vemos na disputa pela revogação da reforma do ensino médio.
Estrategicamente, o novo fascismo, expressão que empresto de Pasolini, reorganiza-se no governo Lula (depois de quase comer os ossos da população pobre), com a figura do ex-presidente, do ex-juiz e ex-viajante ao prédio da CIA, ex-ministros militares, ex-assessores do ex-governo genocida entre outros comensais do Planalto. Cada qual tem um falso papel a representar. Mais: esses grupos têm as mídias profissionais brasileiras e até a estrangeira CNN que, semana passada, fez um “debate” sobre o hoje senador e ex-juiz da falsa Lava - Jato.
Esses inomináveis senhores são mostrados nas TVs e jornalões como “os pensadores do Brasil”. Só falam em economia, bolsa e juros e crise em uma linguagem que remete à fraqueza e perdas. Ressuscitam até o ex-juiz, coadjuvante do lawfare no Brasil.
O ex-juiz não escreveu livros ou artigos quando na sua função, mas participou de uma das maiores mentiras construídas no judiciário. Lawfare é uma palavra que vem de Law (lei) e warfare (guerra), publicada por Charles Dunlap, em 2001 para materialização de uma guerra, derrota do inimigo utilizando o Direito como busca de poder. Trata-se de estratégias de geração de instabilidade social a partir da criação de um inimigo manifesto da população. Também são inventados diversos “campos de batalha” onde se aparentemente se resguardam as instituições do Direito, os poderes legislativo, executivo e judiciário.
Perguntamos: e quem são os inimigos? Os inimigos estão nos órgãos estatais. Os funcionários das estatais têm suas vidas manipuladas, fatos distorcidos, seu trabalho desprezado. E quem sabe, terão noites invadidas por policiais com armas, berros e prisões.
Recomendo o livro de Frédéric Pierucci, Arapuca Estadunidense: uma lava jato mundial, em que o autor narra como se viu lançado no olho do furacão de um lawfare.
Ex-executivo de uma filial da Alstom francesa, Pierucci foi preso em Nova York pelo FBI e processado em um caso de corrupção em que ele sequer sabia do dinheiro em questão. Na verdade, ele que morava na França foi convocado pela Alstom a ir aos EUA para negociação. No aeroporto foi preso e passou dois anos numa masmorra de máxima segurança.
A história é outra: A General Eletric queria comprar a Alstom, mas não antes de fazê-la pagar uma multa ao Departamento de Justiça dos EUA. Direito e ética foram corrompidos para que a França vendesse suas estatais aos EUA. E assim ocorreu uma farsa, cabendo à França pagar mais de 14 milhões de dólares de multa.
No Brasil o lawfare da Lava Jato levou muitas empresas ao buraco e os trabalhadores ao desemprego. Além disso, fez o grande espetáculo em nome de uma luta do Direito contra a corrupção e criou a modalidade do xerife, do bom mocismo.
A exposição da CNN e outras mídias em torno do nome do ex-juiz mostra-nos que segue a tentativa do golpe. Na CNN, no dia do “debate” em torno do nome do ex-juiz, uma pessoa interrompeu esse fluxo midiático, o ator Pedro Cardoso. Perguntou aos debatedores o porquê de discutir o nome de alguém que se mostrou tão corrupto quanto a corrupção que o ex-juiz queria combater.
Em 12 minutos fez a CNN sentir uma “resposta voadora” no pescoço dos donos da empresa. A fabricação do consenso fascista contra o governo Lula teve uma voz dissonante. Quebrou a expectativa do consenso.
Neste mês de março de 2023, deve ter ocorrido muitas reuniões ou recados recombinantes entre esses senhores do novo fascismo. Certamente, para marcar os 100 dias do governo Lula, um método de ajustes das táticas e estratégias para que os recalcitrantes senhores teçam pânico e desânimo na população.
Tudo indica que, da manutenção dos juros de 13,7% à viagem à China de Lula, as mídias levantem falsos confrontos e falsos debates para alavancar possibilidade de impeachment, possibilidade de pânico, desânimo da população e descrença no governo.
Chegamos ao dia 31/3 com militares ociosos pensando em comemorar a ditadura com um jantar no Rio de Janeiro. Curiosamente, o ex-presidente chegou de sua fuga dia 30 de março, um dia antes. Maliciosamente, as mídias querem levantar o cadáver político do ex-juiz. Mais animados ficam quando o governo não consegue mudar os juros altos do Bob Campos Neto que, também, quer ser o protagonista de um Estado somente para os ricos.
E nós? Não estamos em março de 2023 com outro governo à toa. Todos lutamos muito. Estamos em luto pela perda de tantos companheiros levados pela Covid, pelas doenças e pelo desemprego.
Cabe-nos uma vida não cafetinada. Liberar a vida lá onde ela é prisioneira. Escrevo isso pensando na Secretaria da Comunicação, SECOM, em dar mais vozes ao governo e à população. Está dando, mas é pouco ainda. Há muitas palavras que afloram em nossas gargantas e há muitos ouvidos entre nós que não são moucos.
Por fim, desejo ao presidente Lula que se restabeleça. Desejo que a linguagem seja reapropriada por cada habitante deste país e façamos coro nas ruas por um Brasil com um Estado para todos.
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