Correio da Cidadania

Quem tem as mãos sujas de sangue?

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Homem invade escola e mata quatro crianças em Blumenau - Jornal Tribuna  Ribeirão
Vocês repararam que as mortes em escolas atingem as professoras e crianças? Feminicídios e infanticídios, são as duas partes mais atingidas pelo discurso do ódio no Brasil nos recentes ataques; um em São Paulo, o outro em Blumenau, em uma creche onde 4 crianças entre 5 a 7 anos morreram. Só não vê quem não quer, quem ainda está infectado pelo vírus da morte disseminado pelo governo anterior.

De acordo com Daniel Cara, professor e pesquisador da USP-SP no campo da educação, tivemos nos dois anos anteriores, em 2021 e 2022, 18 ataques às escolas. Essa coincidência está estabelecida desde que a extrema-direita fundou o projeto Escola Sem Partido, que atuou como uma bandeira fascista contra os professores e as professoras impondo vigilância e escolas militares, duas maneiras de esvaziar as matérias escolares, a solidariedade na escola e o debate acerca dos comportamentos violentos. As escolas passaram os quatro anos do inominável ex-presidente sem ajuda e sem procedimentos para enfrentar ataques de fúria dos extremistas de direita.

O discurso do ódio foi fomentado ainda em 2016 contra a presidenta Dilma. Em 2017, no governo temer (com letra minúscula) com a destruição do Ministério do Trabalho, da Previdência e a entrega do Ministério da Educação ao Mendonça tivemos a porta de entrada ao inferno do ódio, atravessada a seguir pelo governo do inominável, um presidente que sequer sabia falar a língua portuguesa e fazia comentários desumanos de docentes, de mulheres e desprezava crianças.

À época, as palavras mais comentadas sobre escolas eram: kit gay, mamadeira de piroca, escola sem partido, vagabundos/as. Os ataques e as palavras de ordem dos extremistas de direita prometiam um período ditatorial aos docentes. Professoras e professores eram os alvos prediletos do MBL, do site Brasil Paralelo e outras mídias alinhadas a esses grupos.

Nós, docentes de diferentes escolas públicas e até privadas fomos considerados/as, como dizia Foucault, os infames, aqueles e aquelas transgridem as regras impostas por eles. Aqueles/as que não são aceitos pela sociedade. Espalhavam via fake news mentiras para conseguir pais, mães, militares, entre outros adeptos da punição aos docentes.

Daí o discurso do ódio, da rejeição, do ressentimento. Quem não se lembra das invasões de deputados desses grupos às escolas, filmando professoras, pregando cartazes contra as feministas? Estimularam os jovens ao terrorismo de direita: estes jovens podiam odiar e até matar em vez de resolver os problemas.

Na verdade, esses grupos reprisaram no Brasil o que a extrema-direita fez na década de 1980, pelas mãos dos supremacistas brancos dos EUA. Criaram a “crise da escola”. Daí, a concepção de uma reforma do ensino nos moldes da famigerada BNCC, organizada com a ajuda do ex-ministro Mendonça no governo temer e aprovada pelo inominável.

O governo do inominável copiou o terror dos extremistas estadunidenses, dentre eles o horror às feministas. Também copiou o horror às ciências, à filosofia, à história, à sociologia.

A morte de crianças de 5 a 7 anos em Blumenau no dia 5/4/2023 e a morte da professora Elizabeth na escola estadual da Vila Sônia, em São Paulo, e as tentativas de ataques nos dois últimos anos indicam que o alvo são mulheres.
Odeiam mulheres que trabalham, que decidem por elas próprias e se empoderam, ainda que em um país destroçado.

Compartilho dos estudiosos, dentre estes, Daniel Cara, que elaborou um manual para debate e publicação nas escolas para conter a violência de jovens tomados pelo ódio de classe. Esses grupos continuarão a matar nas escolas se não for feito um grande trabalho com as escolas, pais e mães, governantes entre outros.

Quanto a esses grupos, é preciso que sejam monitorados. São perigosos e vivem da exaltação do ódio de quem, supostamente, têm mais capital simbólico que eles. São grupos de jovens ressentidos. Pregam a morte de quem é diferente deles.

Muitos destes indivíduos participam em pequenas seitas como os Incels (celibatários involuntários), os red pill, entre outros que se destacam por idealizar uma sociedade em que as mulheres obedeçam a homens, não trabalhem, tenham filhos, sejam religiosas e outras idealizações de uma época que passou historicamente – se é que existiu plenamente. No Brasil, a jornalista Daniele Oswald Ramos, no artigo “Origens da misoginia on-line e a violência digital direcionada a jornalistas mulheres”, de 2020, mostra os ataques e as ameaças a mulheres jornalistas.

De acordo com Ramos, a jornalista Mariliz Pereira Jorge, que mantinha uma coluna de opinião semanal na Folha de S. Paulo, descreveu, na trilha da recomendação de limitação de uso do Twitter pelo New York Times, sua experiência como mulher nesta rede.

Vejamos o que diz: ao ler alguns estudos sobre o impacto das redes sociais, me senti completando uma cartela de bingo. Ansiedade. Depressão. Medo. Infelicidade. Raiva. Insônia. Bullying. Paranoia. Necessidade de pertencimento. Queda de autoestima. Bingo mil vezes.

“[…] Recentemente, me perguntei: por que eu estou fazendo isso comigo? O Twitter não paga as minhas contas, apenas alimenta a vaidade de ter milhares de seguidores. E para quê? A que custo? Fui chamada de racista, misógina, assassina de bebês, fora todo o glossário básico do hater: puta, vadia, vagabunda, porca, porca imunda, velha, acabada, decadente. Todo tipo de esculhambação sobre minha aparência, idade, raça, estado civil, orientação sexual. E muitos, muitos ataques por causa do meu posicionamento político vindo de todo o espectro. Descobri que no Twitter liberdade de expressão é relativa.

Alguns grupos como os Incels surgiram na década de 1970, nos EUA, quando os movimentos feministas surpreenderam os extremistas com seus grandes movimentos sociais junto aos negros e hippies. Na época o grupo era de supremacistas brancos. Em 1990 emergiu um grupo dos supremacistas, os Incels (involuntary celibates) que atuaram a favor do inominável. Nos EUA, na Inglaterra e no Canadá este grupo cometeu ataques e provocou mortes.

No Brasil esses grupos atuam na deep web e dark web traduzidas como internet profunda, lugar abaixo e secreto. São “lugares” obscuros com mensagens também obscuras que remetem a mortes, Hitler, ditaduras, tortura, encomenda de mortes, ódio às mulheres, aos negros, tráfico, entre outros conteúdos violentos. Quando são descobertos, saem do local e vão às redes sociais.

Na verdade, os ataques de 1970 a 1990 vinham carregados de antifeminismo e do desejo de voltar a história para um recanto onde encontrariam mulheres virgens para se casar e outras lorotas a mais.

A pergunta é: haveria ainda esse modelo de mulher? Ou melhor: houve um dia essa mulher?

O fato é que depois de 1990 esses grupos começaram a atuar como nazistas. Para mim são grupos recrutados para a política dos ataques e parecem ter sérios problemas cognitivos, sociais e afetivos. Vingam-se de suas próprias limitações matando quem quer sobreviver em um país devorado pela violência de 2016 a 2022 e que continua, infelizmente, em 2023.

Semana passada foi nossa companheira Elisabeth a vítima. Depois, foram 4 crianças de uma creche. Nossos sentimentos às famílias. Também é preciso dizer que o Ministério da Educação tem a urgência de tratar esse drama político que aflige os professores e professoras com monitoramento dos grupos jovens nazifascistas e se comprometer com os professores e professoras, pais, mães e todo a escola.

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