Correio da Cidadania

Calúnias e omissões

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Diligência da CPI do MST em Hidrolândia que não encontrou irregularidades / CPT Goiás

Duas manifestações do Pecado Social

Nestes dias no Brasil e sobretudo em Goiás, assistimos um filme ao vivo com duas cenas:

1. A primeira: uma cena de calúnias descaradas e repugnantes, que são de uma baxaria incrível. Refiro-me às palavras cínicas e diabólicas do gobernador Ronaldo Caiado. que com desprezo - irônica e farisaicamente - criticou a esquerda, os movimentos sociais populares - sobreudo os que lutam pelo direito à terra e à moradia digna como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), as organizações religiosas ligadas à defesa dos direitos humanos, as Pastorais Sociais como a Pastoral da Terra e a Pastoral Carcerária, e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), chamando todo mundo de “esquerdinha de butique que não trabalha”. Que vergonha! (Cf. Entrevista ao Programa Pânico, dia 14 deste mês de agosto, em: https://jovempan.com.br/.

2. Com estas palavras, Ronaldo Caiado referia-se, de modo especial, aos que não reconhecem o agronegócio como uma potência produtiva. Na realidade, todos e todas nós sabemos que o agronegócio é sim uma potência, mas uma potência que destroi e envenena a natureza, visando somente a exportação e o lucro - muitas vezes com trabalho escravo - a serviço dos poderosos: os adoradores do deus dinheiro.

Não dá para entender como um ser humano possa ser tão mesquinho, hipócrita, injusto, antiético e diabólico!

Infelizmente, na sociedade capitalista ultraneoliberal de hoje essa cena de calúnias é uma das faces mais perversas do pecado social ou pecado estrutural: uma “desordem estabelecida” (E. Mounieer), legalizada e institucionalizada.

2. A segunda: uma cena de omissões, tanto na sociedade em geral como na Igreja, diante das acusasões caluniosas e mentirosas do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Infelizmente, as paróquias, as dioceses, a CNBB regional e nacional e a Igreja em geral ou não tomaram conhecimento ou, se tomaram, foram totalmente omissas.

A nossa Igreja - sobretudo por causa do clericalismo de bispos, padres e outras pessoas - esqueceu, com poucas exceções, o Concílio Vaticano II, a Conferência de Medellín e sobretudo o Evangelho. Voltou a ser uma Igreja conservadora, preocupada somente com seus problemas internos e impregnada de individualismo religioso.

Como exemplo, basta ver a programação pastoral de algumas Paróquias. Para essas Paróquias, o mundo não existe, ou existe somente para que as cristãs e cristãos possam “fazer caridade” e “salvar sua alma”. O que mais se ouve nas Igrejas hoje é o “eu”. Eu te louvo, eu te adoro, eu... eu... Ora, Jesus não falou “Pai meu...”, mas “Pai nosso...”. Infelizmente, a imagem de Jesus de Nazaré e do seu Evangelho foi totalmente deturpada.

Graças a Deus, as trabalhaforas e trabalhadores e os pobres em geral, que lutam pelos direitos humanos e de maneira especial pelo direito à terra e à moradia digna, tiveram e têm ainda o apoio e a solidariedade - através de notas públicas nas redes sociais ou presencialmente através de representantes - das organizações aliadas, que também foram vítimas da truculência repugnante do governador, como movimentos sociais populares, sindicatos de trabalhadoras e trabalhadores, comitês ou fóruns de defesa dos direitos humanos, entidades de jovens estudantes e pastorais sociais, principalmente a Pastoral da Terra e a Pastral Carcerária.

Pessoalmente, confesso que diante das calúnias do governador, o meu sangue ferveu e fiquei totalmente tomado de indignação. Os caluniadores e opressores dos pobres e seus aliados lembrem as palavras que Jesus de Nazaré - em situações semelhantes a nossa - dirigiu aos doutores da Lei e fariseus: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! (...) Serpentes, raça de cobras venenosas! Como é que vocês poderão escapar da condenação do inferno?” (Mt 23,14.33). Palavras duras!. Que coragem! Meditemos!

Por fim, mesmo com tudo isso, não temos o direito de desanimar. Esperançar é preciso! Unidas(os) e organizadas(os), a luta continua! Jesus de Nazaré está conosco e caminha conosco A vitória já é nossa!

Frei Marcos Sassatelli é teólogo e frade dominicano

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