Correio da Cidadania

Reflexões após o 36º Congresso da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião

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De 9 a 12 deste mês de julho aconteceu na PUC Minas, em Belo Horizonte - na modalidade presencial e online - o 36º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), cujo tema foi: Economia e Inteligência Artificial: Desafios à Sociedade e à Religião.

Os subtemas do Congresso foram:

• Inteligência Artificial: das técnicas às implicações sociais;
• Política Econômica e Democracia participativa em tempos digitais;
• Pós e Transumanismo: questões teológicas;
• Desenvolvimento tecnológico e qualidade de vida: realces;
• A Comunicação entre interesses econômicos e serviços à construção social;
• A utopia religiosa da Casa Comum e desafios da economia global;
• Considerações sobre o 36º Congresso Internacional da SOTER.

O tema e os subtemas, muito atuais, foram tratados e aprofundados por professores(as) universitários(as) – doutores(as) em diferentes áreas do conhecimento - com a contribuição, nos debates, de membros do Congresso. O conteúdo das Conferências e Palestras foi abrangente e muito valioso.

Como sócio da SOTER e participante online do Congresso, parabenizo - na pessoa da presidente da Sociedade, Dra. Clélia Peretti - a Equipe de Coordenação e todas as Equipes de Serviços. Foi muito bom! Valeu a pena!

No intuito de colaborar, permito-me fazer agora - no espaço de um artigo - algumas reflexões críticas construtivas.

Por ser o Ser humano histórico - situado (no espaço) e datado (no tempo) - toda Práxis humana (Prática e Teoria dialeticamente unidas) não é neutra, mas tem lado.

A questão da “não-neutralidade” ou da “não possibilidade da indiferença social” (socioeconômica, sociopolítica, socioecológica, sociocultural e sociorreligiosa) refere-se a todos os momentos do processo do Conhecimento: comum (a maioria dos nossos conhecimentos, mesmo dos cientistas, são do conhecimento comum), científico, filosófico e teológico.

Devido, porém, ao extraordinário desenvolvimento das Ciências, a questão da não-neutralidade é particularmente sentida e debatida quando se trata do conhecimento científico em sentido estrito (em sentido lato, todo conhecimento metódico e sistemático é conhecimento científico).

Ora, a “não-neutralidade” do conhecimento refere-se não somente ao uso que se faz do conhecimento (crítica externalista), mas também ao contexto específico do conhecimento, ao próprio ato de conhecer (crítica internalista). Elimina-se, assim, a separação entre conhecer e valorar ou entre saber e agir. Mostra-se que o conhecimento é fato social (socioeconômico, sociopolítico, socioecológico, sociocultural e sociorreligioso).
O conhecimento filosófico e teológico é - podemos dizer - o horizonte no qual o conhecimento científico ganha profundidade de sentido (Filosofia e Teologia das Ciências).

A Filosofia e a Teologia da Libertação partem sempre do Ser humano histórico, mesmo sabendo que o Ser humano é também um Ser meta-histórico: “já-e-ainda-não” neste mundo (passando de uma situação de vida menos humana para uma situação de vida mais humana) e “além-da-morte” na Eternidade (Plenitude da Vida, Páscoa definitiva).

As palavras “da Libertação” são um lembrete: elas nos recordam que a Filosofia, a Teologia e as Ciências da Religião - para serem humanas e, portanto, éticas - devem ter lado: o dos pobres (empobrecidos, marginalizados, explorados, oprimidos, excluídos e descartados).

Portanto, a opção pelos pobres não é “preferencial” (uma opção entre duas ou mais possiblidades), mas é o Caminho que leva à Vida. Jesus de Nazaré entrou nesse Caminho desde o seu nascimento como “sem teto” na manjedoura até a morte na Cruz. Todos e todas - inclusive os ricos - são convidados(as) a entrar no Caminho que leva à Vida. Um exemplo: no Evangelho - convidados por Jesus - Zaqueu, homem rico, partilhou seus bens e entrou nesse Caminho; o jovem rico não teve a coragem - ao menos naquele momento - de fazer o mesmo e foi embora triste.

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). “Eu vim para que todos e todas tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Como Cientistas da Religião, Filósofos e Teólogos da Libertação, devemos testemunhar com a vida - prática e teórica - que a nossa Opção é a Opção pelos Pobres, que o nosso lado é o lado dos Pobres. Por isso, o ponto de partida e o eixo central (a espinha dorsal) de todo Encontro e Congresso de Ciências da Religião, Filosofia e Teologia deve ser a Opção pelos Pobres. Meditemos!

Marcos Sassatelli é Frade dominicano, Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP); pofessor aposentado de Filosofia da UFG. 

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