Massacre de Felisburgo: seis anos de impunidade. Cadê a justiça?
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- Frei Gilvander Moreira
- 22/11/2010
Na tarde do dia 20 de novembro de 2010, Dia da Consciência Negra, dia de Zumbi dos Palmares, no centro de Belo Horizonte (MG), cerca de 400 militantes do MST, do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), de outros movimentos populares e de Pastorais Sociais fizeram uma marcha de protesto clamando por justiça no caso do Massacre de 5 Sem Terra do MST, em Felisburbo, Vale do Jequitinhonha(MG), a 20 de novembro de 2004.
No final da manifestação, na Praça da Estação, alguém pichou o chão da praça com a seguinte inscrição: "Seis anos de massacre de 5 Sem Terra em Felisburgo. Cadê a justiça? Até quando continuará a impunidade?".
A Guarda Municipal de Belo Horizonte alegou que patrimônio público não podia ser pichado, não identificou quem teria feito a pichação e acabou impedindo os ônibus da família Sem Terra de iniciarem a viagem de volta aos acampamentos e assentamentos.
A PM foi chamada e só liberou os ônibus após se fazer um Boletim de Ocorrência com alguém se responsabilizando pelo ocorrido. Assim. crianças, idosos e centenas de trabalhadores rurais tiveram seu direito de ir e vir desrespeitado - e o mesmo em relação aos seus direitos de manifestação.
Todos perguntavam: "Por que a polícia não prende os verdadeiros criminosos que agridem ao povo brasileiro? Por que não pega um balde de água e uma vassoura e não limpa o chão pichado? Por que coar um mosquito e engolir um camelo? E o direito à dignidade humana? Por que não se prendem e julgam os mandantes e os jagunços que mataram Sem Terra que lutavam pacificamente por um pedaço de terra? Por que não se faz reforma agrária? Se a praça é pública, por que não se pode manifestar nela?".
O mandante Adriano Chafic, réu confesso do Massacre de Felisburgo, continua em liberdade. Um jagunço já morreu sem ser julgado. Outros 15 jagunços continuam em liberdade. A Fazenda Nova Alegria ocupada pelo MST, mesmo encharcada com o sangue de cinco Sem Terra, não foi desapropriada por causa do massacre, mas porque o latifundiário-empresário Adriano Chafic cometeu crime ambiental no latifúndio.
No entanto, a desapropriação foi suspensa pelo Poder Judiciário. Não foram ainda indenizados os sobreviventes e parentes dos cinco companheiros que tombaram na luta. Mais: nenhum latifúndio foi desapropriado em Minas Gerais em 2010. Assim, o governo federal continua rasgando a Constituição de 1988, que prescreve a desapropriação de latifúndios que não estão cumprindo sua função social. A migalha de reforma agrária feita pelo INCRA é de mercado, ou seja, fruto de compra de terra para assentar algumas famílias e acalmar o gravíssimo conflito agrário existente.
Mas, quando terminava o protesto na Praça da Estação, eis que iniciava uma nova, na estação do Cine Belas Artes, na capital mineira: a pré-estréia do Filme Aboiador de Violas – Documentário sobre a vida de Pereira da Viola, que revela Pereira da Viola como um violeiro que cultiva suas raízes camponesas e quilombola. "Minha mãe Augusta, ainda durante a ditadura militar, a partir da Bíblia, defendia a realização da reforma agrária. Aprendi com ela a defender os direitos dos pobres camponeses", diz Pereira da Viola, um dos melhores violeiros do Brasil. O filme revela o compromisso de Pereira da Viola com a luta do MST, da Via Campesina e da CPT (Comissão Pastoral da Terra).
Exemplo disso é que Pereira da Viola não mede esforço para participar e animar muitos encontros dos camponeses. Nega-se a fazer shows patrocinados por empresas que têm as mãos sujas de sangue, como a Syngenta, que mandou matar Valmir Mota de Oliveira, o Keno, um Sem Terra, no Paraná, no dia 21 de outubro de 2007.
O filme Aboiador de Violas, lançado dia 20 de novembro de 2010, dia da consciência negra, no dia em que celebramos seis anos do massacre de Felisburgo, é sinal de que os mártires da luta pela reforma agrária estão vivos em nós e no nosso meio. A luta pela reforma agrária, por justiça social e por uma sociedade sustentável poderá custar muito suor e sangue, mas será vitoriosa!
Para refrescar a memória e animar o compromisso com a luta dos pobres camponeses, convido você a assistir ao Vídeo-documentário sobre o Massacre de Felisburgo, clicando no link, abaixo:
http://www.mst.org.br/Massacre-de-Felisburgo-completa-seis-anos-Veja-video
Um abraço terno.
Gilvander Moreira, frei Carmelita, colaborador e ativista de diversos movimentos sociais.
E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Páginas na web: http://www.gilvander.org.br/; www.twitter.com/gilvanderluis
Skype: gilvander.moreira
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Comentários
Caros(s) Companheiro(s)
De estradas e jornadas.
Depois do nosso último encontro em Belo Horizonte e devido o meu apoio à justa ocupação do INCRA pelo MST, concretizou-se o fato, há algum tempo já sinalizado que foi: - o da crescente incompatibilidade entre a minha visão e o meu compromisso pessoal com os movimentos sociais e a orientação e prática da Instituição da qual eu representava, o que resultou na minha demissão do INCRA em setembro de 2005.
Desde então, procuro a oportunidade de uma reaproximação independente do poder do Estado, com representações organizadas existentes na sociedade civil que estejam comprometidas de alguma forma com a questão da Reforma Agrária, na mesma perspectiva ideológica que defendo e com uma prática que busque, realmente, a transformação social e política da realidade brasileira, há tanto tempo batalhada e esperada, embora malograda até o momento em nosso país.
Por isso, me dirijo ao(s) companheiro(s) agora apenas no papel de cidadão que sou e que sempre fui engajado com as forças sociais, para compartilhar meu sentimento de desaponto e estranhamento com a política do atual Governo, no qual garantimos a legitimidade e depositamos a nossa confiança, e que tem demonstrado um afastamento cada vez mais evidente dos anseios da maioria dos brasileiros que apostaram na sua capacidade política transformadora, em favor da justiça e da inclusão social.
Acreditando que, somente através de movimentos organizados de pressão social, possamos reverter o rumo secular da história de omissão do Poder Público em relação à desigualdade e a exploração econômica em nosso país, na qual a Reforma Agrária é questão crucial e a mais urgente, é que me coloco à disposição, com a minha experiência profissional e capacidade de trabalho, para somar esforços à causa política que sempre norteou a minha vida.
Em anexo, encaminho meu Currículo Vita, documento que atesta uma trajetória coerente e comprometida, em diversas frentes, com a luta pelo direito, pela dignidade e valorização do trabalhador brasileiro.
Contando com o seu apoio e a sua solidariedade nesse momento difícil que atravesso, por ter levado até as últimas conseqüências uma posição e atuação transparentes contra a política do INCRA ora em andamento, coloco-me à disposição para contribuir, de forma independente e desatrelada do Poder Público, com aqueles que continuam a lutar e acreditar, a par de tantas dificuldades e decepções, em uma sociedade mais justa e fraterna para a maioria do nosso povo, seja no campo ou nas cidades.
Esperando uma resposta favorável o mais urgente possível, despeço-me com um forte abraço, agradecendo antecipadamente.
Carlos Rodrigues.
Um fato que ficou para as calendas da historia.
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