São Lucas ou São Lucros?
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- Daniel Chutorianscy
- 04/01/2011
O objeto da saúde é a transformação social. O impedimento desta é a doença. A saúde é a revolução, aquilo que torna a evoluir o que estava totalmente paralisado. O modelo capitalista, igual em qualquer lugar, é a doença. Entendemos a saúde como educação, prevenção, informação, atendimento adequado às doenças, água, esgoto, transporte, meio-ambiente sem contaminação, justiça social, reforma agrária, direitos, salários dignos, democracia...
Não confundir atender à doença e saúde. No modelo capitalista vigente, atende-se um a corpo doente, que se torna um número, um objeto de lucro. Contrariamente, saúde não gera lucros, mas dá direitos, transforma. A doença social preserva o obscurantismo, a alienação.
Para as elites brasileiras, tudo funciona como deve funcionar: a educação não educa ninguém, a ‘saúde’ adoece, os direitos sociais são quase inexistentes. Se você tem dúvidas, achará este texto muito radical. Faça o seguinte: freqüente durante uma manhã, uma tarde ou uma noite um hospital público brasileiro. Você vai conhecer como funciona verdadeiramente este país. Não por culpa dos funcionários daquelas instituições, mas exclusivamente pela perversidade da exclusão social do modelo, que trata a população como lixão.
Compare agora com o luxo e riqueza nos hospitais-hotéis particulares, verdadeiros palácios, onde todos são gentis e solícitos, treinados e adestrados para servir bem a aristocracia.
Aqui no estado do Rio, além da ‘limpeza racial’ executada pela militarizada UPP, executa-se outra "limpeza racial" com a UPAS (Unidades de Pronto-Atendimento), que fazem um verdadeiro ‘upacídio’. O estado do Rio tem uma longa tradição, de dezenas de anos, de atendimentos de programas nos inúmeros postos e centros de saúde (hipertensão, diabetes, AIDS, gravidez etc.), que foram desqualificados, esquecidos intencionalmente em função dessas UPAS, que acabam não sendo nem hospital e nem posto de saúde, terminando como "unidade de porco atendimento". Tudo capitaneado pelas "cooperativas" de triste fama, um "bóia-fria" institucional, que esconde a verdadeira cara da "evitação" do concurso público, mas não esconde o verdadeiro rosto da privatização generalizada e desenfreada em todo o país.
Portanto, como um verdadeiro e terrível milagre, aparece uma estrondosa enxurrada de hipertensos, diabéticos, acidentes vasculares cerebrais ou "derrames" (a doença que mais mata no Brasil) e uma seqüência infinita de patologias igualmente graves. A mídia amestrada ataca de frente, de lado, de ré... ‘sempre tem uma UPA perto de você’. Mais uma solução mágica para o lucro e a mesquinharia política.
E só para não esquecer, o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos e os transgênicos estão aí, empanturrando-nos com doenças e empanturrando as multinacionais de lucros cada vez mais formidáveis. E dane-se a população. A indústria farmacêutica está em pleno vapor, em cada quarteirão floresce uma, duas ou até mais lindas drogarias... Crédito ilimitado e doenças que não acabam mais.
O patrono dos médicos é o evangelista São Lucas, nome latino do médico grego Lucano. O dia do médico é 18 de outubro, dia de São Lucas. E não é só na medicina que o modelo capitalista, na sua forma mais avançada, o imperialismo, transformou o gentil São Lucas em São Lucros. O capitalismo tem verdadeiro horror à luta de classes, à saúde, à educação.
A verdadeira revolução que o homem pode fazer é pensar, e pensar é saúde. A perversidade do modelo capitalista é excluir, adoecer; extorquir, torturar... E, se ainda o resultado for ineficiente, arma-se uma guerra. Assim, o lucro será maior ainda. Hoje no Brasil vivemos uma verdadeira guerra ‘invisível’, mas totalmente visível, com mortes por doença, violência, acidentes que batem recordes, e não há guerra declarada oficialmente.
O que há é uma colonização de mais de quinhentos anos de um país riquíssimo, onde a cobiça do capital é inesgotável, onde funcionam a corrupção, a traição. Nessa hora não existem amigos, existem negócios: vende-se a mãe, se a mãe der lucro. Lucro não tem pátria. Lucro é lucro. E que se dane a população...
Desejo saúde a todos, menos àqueles que vivem da doença – dos outros.
Abraços fraternais.
Daniel Chutorianscy é médico. CRM: 52-27646-7.
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Comentários
No mais, sou amigo do Dr. Daniel e não seu DEFENSOR.
Um homem como ele que escapou de um AVC gravíssimo, que em dois meses já andava na sua moto, que enfrenta a enfadonha fisioterapia necessária e que ransformou o seu problema em tentativa de ajudar a solucionar os problemas alheios, convenhamos, não recisa de DEFENSORES, mas de interlocutores.
A guerra invisível acontece não somente no tocante à saúde, mas também em outras áreas. No trânsito, por exemplo.
Acontece que a educação vai muito mal e sem educação não existe saúde nem paz no trânsito e nem respeito aos outros e a si próprio.
Infelizmente essa situação interessa muito e há muito tempo setores lobistas internacionais que têm agido nos meandros do poder.
Lembro que em 1974 o Relatório Kissinger apontava 212 milhões de brasileiros para o ano 2000 e chegamos em 2010 com 180 milhões. Fruto das políticas de controle populacional implementadas, que matam ou não deixam nascer.
Parabéns ao Dr. Daniel e também ao seu defensor Dr. Raymundo.
Como professora da rede pública,atuando em sala de aula há mais de 20 anos, vivencio cotidianamente as dificuldades e mazelas que, de certa forma, são semelhantes as encontradas nos hospitais, centros e postos de sáude, principalmente no que diz respeito à falta de comprometimento do Governo para com os usuários e profissionais que atuam em tais áreas. (e em outras tantas...)
Como bem escreveu o articulista, a Educação não educa, a Saúde adoece e, se ainda há instituições de ensino e de saúde funcionando, é graças à tenacidade, generosidade e crença de que a transformação social é possível, dos profissionais que, superando os inúmeros obstáculos,executam o seu trabalho com dignidade e cidadania.
Ler um texto é muito mais do que entender o que nele está escrito. É conseguir também perceber as intenções que o autor teve ao elaborá-lo e entender que o significado de uma parte não é autônomo,mas depende das outras partes com que se relaciona. Pena que os leitores Jamigo e Francisco de Assis de Castro não conseguiram fazer uma leitura mais profunda, permanecendo na superficialidade de alguns aspectos mencionados no texto, como bem observou o "exímio leitor" Raymundo Araújo. Ler bem não é tarefa das mais fáceis; há que se ter um repertório que permita enxergar as entrelinhas do texto.
Não dá para desejar Saúde aos que se locupletam com a miséria alheia. A eles, desejo juízo para revisar suas ações, ainda que ache difícil que isso aconteça.
Dr.Daniel, mantenha aceso o seu olhar crítico e nos presenteie outras vezes com artigos tão interessantes como este sobre a Saúde. (Saúde?)
Tim-tim!!!!!
O Dr. Francisco de Assis fez comentário ao artigo do Frei Beto \"O Governo Lula\", publicado aqui no Correio e por mim criticado, fazendo veemente defesa das \"visíveis melhoras na saúde do Povo Brasileiro e, de quebra, ainda chamou a todos os críticos deste governo passado de \"intelectuais de barznhos\", exatamente como faziam os generais da ditadura, para desqualificar seus críticos. Goebels também incitava este tipo de campanha aos criticos do nazismo...
Mas, a minha disposição é debater com dados e análises da realidade, como ela é, e não por achismo ou posições particulares \"de onde eu trabalho, posso ver...\".
Para mim não ficou claro se o Dr. Francisco trabalha na \"linha de frente\" ou nas análises e tabulações de dados que chegam ao Sistema, \"para que se tracem as estratégias de saúde da família\".
Em primeiro lugar, são pouquíssmos os municípios brasileiros que têm algo digno do nome \"estratégia de saúde da família\".
Depois, se o Dr. Francisco visitar, como eu visito sempre, as comunidades pobres, aqui de Niterói e do Rio e pelo Brasil (como as indígenas deo RS e MS, por exemplo), poderá v er que algo não vai bem.
A Rocinha, por exemplo, ostenta o índice emblemático de 300 casos de tuberculose por 100 mil habitantes (dez vezes maior que o tolerável). A Hipertensão, diabete e doenças coronarianas grassam sem graça, assutadoramente, concorrendo para que tenhamos 250 a 300 mil mortes por AVC POR ANO no Brasil, fora os mais de 1 Milhão de novos sequelados a cada ano. A dengue, bem esta écaso de policia literalmente.
A obesidade permeia todas as classes sociais, indicando que mesmo aqueles que ascenderam a um nível mínimo de consumo, se alimentam mal, cmo atestam os índices e avaliações de consumo pelos que recebm o Bolsa Família, que nos mostra que \"biscoitos e refrigerantes\" imperam nestesc onsumo. Ou sr. acha que com a carne de primeira a R$17 e a de segunda a R$13, e o frango com osso e tudo a R$5 (= R$10 sem osso) o Kilo, que as mesas andam fartas?
Muito carboidrato e açúcares, além de transdgênicos e substâncias químicas perniciosas é o que introjetaram na dieta do Pobre, inclusive os transgênicos. O óleo de soja brasileiro contém 10 vezes mais de substâncias residuais indesejáveis do que nos recoemnda a OMS.
E isso causa doenças, não as evita, mesmo que o indivíduo se mantenha de pé, enquanto adoece e entre nas estatísticas dos \"melhores de saúde\".
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos, anfetaminas e calmantes. E o sr. a dizer que a \"coisa melhorou\".
Dr. Francisco, por favor, não caia no ridículo de analisar a questão da saúde pelo seu \"locus observatorium\", pois podes lograr uma tremenda refração, ainda mais acentuada pela sua opinião favorável \"ad hoc\" ao governo Lulla.
Ciência e politica do Poder em geral só se tocam qundo uma pede verbas e a outra nega.
A saúde brasileira, assim como as suas estratégias estão péssimas, a começar pelo recrudescimento da AIDS em vários grupos outrora bem protegidos (jovens homossexuais masculinos e dobas de casa de casamentos \"monogâmicos\". E alerto para uma possível incidência em idosos cardíacos que não podem tomar a tal pílula azul, que mantêm relações sem camisinha. Mas este é um grupo de difícil investigação epidemiológica.
E, no andar da carruagem de 8 partos por hora por jovens de 10 1 17 anos, o seu emprego de \"estrategista da saúde da família\" estará garantido por muitos anos....
No mais, deixar de comentar as análises estratégicas do Dr. Daniel para se ater a quem temos ou não de desejar boa saúde, é próprio de avestruzes, e não de cidadãos. Que me perdoe a comparação....
No mais, o ex reitor da Universidae de Bremem e grande articuista da década de 70, o Dr. Ivan Ilich, já nos mostrara há 40 anos em seu livro A Expropriação da Saúde pela Medicina, que a melhora da saúde, ou da aperenbte saúde das pessoas, deve-se muito pouco à medicina e muito mais a conquistas sociais.
Em nenhum destes ramos o governo Lulla logrou algum êxito.
Ora, Dr. Francisco, mesmo o sr. trabalhando \"nas estratégias da medicina social\", podes estar incorrendo em erro, ao não só generalizar como ampla a situação que vês, nas pouquíssimas comunidades onde estão implantadas algumas das exeperiência.
Do artigo, não gostei do título e do final, pois devemos desejar saúde a todos indistintamente.
Desejo que os profissionais da saúde, mesmo com as dificuldades e precariedade do sistema público de saúde, possam aliviar o sofrimento do povo com gestos de ternura do bom samaritano (Lc 10,25-37), para merecerem também o mesmo reconhecimento querido do seu patrono, São Lucas.
Parabéns Daniel, podes contar comigo para o quye der e vier!
Enquanto as ações de cada um de nós no dia a dia em nossa vida pessoal, profissional e social não priorizar o coletivo, o alcance da transformação social com a gama enorme de frentes de ação,trabalho e luta que precisam ser empreendidas,muito tempo ainda há quedecorrer até que alcancemos a transformação necessária e almejada por todos aqueles que valorizam o ser humano como tal e como ser social.
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