Quem é o mais doente?
- Detalhes
- Daniel Chutorianscy
- 11/04/2011
A tragédia de Realengo (RJ) comoveu a todos. Um verdadeiro massacre nas nossas consciências e fragilidades. Tudo é possível em se tratando de seres humanos, nada se justifica, é próprio da natureza humana.
O garoto tinha problemas graves psiquiátricos, claro e evidente. O garoto foi "molestado" continuamente enquanto aluno daquela escola, claro e evidente. O garoto tinha graves problemas em relação a figuras femininas, inclusive com a mãe, claro que sim, evidente. O garoto tinha uma conduta antissocial, claro e evidente. O garoto queria uma vingança por suas eternas e infernais frustrações, claro e evidente. O garoto armou-se diabolicamente com armas de grosso calibre para executar essa tragédia, claro e evidente. O garoto deixou uma carta testamento-testemunha misturando textos bíblicos com texto de sua realidade, claro e evidente. O garoto queria aparecer para o mundo como um "salvador", como um "herói", trágico, claro e evidente. O garoto queria aparecer como "justiceiro" em sua cabeça confusa , claro e evidente. O garoto queria aparecer. O garoto queria aparecer. O garoto queria aparecer. O garoto queria aparecer para todo mundo, o mundo todo...
O que é que a mídia amestrada e adestrada faz? Exatamente o que o garoto da tragédia de Realengo queria, colocando seu rosto e nome em todos os veículos de comunicação. Dia e noite, o fato vai se repetindo, exploração fácil, lucro fácil, comentários óbvios e o rosto e nome do garoto estão agora mais do que presentes, era exatamente o que ele queria na sua grande vingança. O exemplo a ser imitado por outros garotos é mais do que exposto. A mídia amestrada e adestrada fez e faz.
A mídia armou-se diabolicamente de armas de grosso calibre para vender mais e executar essa tragédia de exposição inútil de um garoto sequelado. O autor da tragédia não tem rosto nem nome, é apenas uma "pessoa doente" e nada mais. Quem é o mais sequelado? O garoto ou a mídia que executa o papel exatamente ao inverso?
Parece que a mídia do modelo capitalista tem graves problemas psiquiátricos, executa um papel que não é o seu, hiperdimensiona e divulga patologias sem a menor noção.
Não é só o garoto da tragédia que possui uma conduta antissocial, a mídia elitista tem uma conduta antissocial bem maior, uma conduta antissocial de "homens grandes", já que quem dirige a mídia é a elite. O que existe não é opinião pública, e sim opinião publicada.
A mídia, sempre ávida pelo lucro, despeja suas eternas e infernais frustrações, desejando sempre vinganças, que dariam mais lucro, mais manchetes, com mais sangue, mais tragédias, explicitando rostos e nomes como um exemplo a ser seguido, e elas vão acontecendo numa escala geométrica.
A mídia continua nos "molestando" com "suas verdades absolutas", com seu falso moralismo, como um "salvador" do bem contra o mal, um"herói" trágico que está em todos os lugares e horários.
A mídia amestrada e adestrada precisa desesperadamente e muito das grandes tragédias, para colocar o rosto e o nome do autor, para esconder seu nome e rosto inconsequentes.
Quem é mais doente? Quem é mais insano? Quem tem mais alucinações? Quem é mais delirante?
A mídia amestrada e adestrada deixa a sua carta testamento-testemunha diariamente quando faz o papel de um garoto com problemas psiquiátricos graves. De uma forma muito mais inconsequente, muito mais patológica, muito mais doente.
Daniel Chutorianscy é médico.
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Comentários
O sistema está plantando o caos, mas o dinheiro não é o único objetivo. Existe algo ainda maior que eles desejam implantar. A questão é: vamos deixar?
Fica a reflexão.
A grande mídia em nenhum momento tocou nas verdadeiras causas, que são:
- ausência de uma política efetiva e permanente de atendimentos a doentes mentais pobres. O que sempre se houve é apenas corte de verbas na área da saúde.
- ausência de interesse dos governos em promover preparação para os professores para reconhecerem alunos com problemas graves de comportamento anti-social.
- ausência de interesse em uma política para promover a educação psico-social nas escolas como forma de combater o assédio e a violência morais.
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