Esperando o pedágio
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- Wilson Aparecido Lopes
- 21/09/2011
Devido às tarefas que desempenho, faço uso constante da Rodovia Edgar Máximo Zambotto ou SP 354. E é sobre ela que desejo me expressar. Pois bem, entre o km62 e o km64, sentido Campo Limpo Paulista a Jarinu, existe um buraco que já se arrasta por mais de seis (6) meses. Quem passa por ali se depara com um verdadeiro descaso de nossos governantes com relação às nossas estradas, sem falar do menosprezo à capacidade ocupacional das pessoas que para ali foram designadas.
Aos governantes fica evidenciada sua incapacidade de resolver até mesmo pequenos problemas. E aí sobram perguntas: O que falta, afinal de contas? Dinheiro? Vontade política? Ou é briga de compadre e comadre? Tipo: Ah! Esta é uma rodovia federal, portanto, é obrigação da presidenta. Ah, não! Esta rodovia é estadual, então é com o governador. Nós prefeitos não podemos fazer muita coisa. Só falta falar que a responsabilidade é do povo, então é ele que deve vir reparar os danos e resolver o problema. Ou então, como preferem alguns governantes, a culpa é da natureza, choveu muito nos últimos dias. Pergunto: nos últimos seis meses choveu ininterruptamente, noite e dia sem parar?
Com relação ao menosprezo à capacidade ocupacional dos trabalhadores, penso que as autoridades políticas deveriam ter ao menos o mínimo de respeito com os homens que foram designados para a função de controlar o fluxo de veículos entre as duas pistas, liberando uma e outra alternadamente. A função medíocre a que se prestam designados por ordem de outrem, difícil acreditar que eles estejam ali por vontade própria, causa indignação em quem por ali transita, como se os homens escalados para aquela insignificante tarefa não soubessem fazer outra coisa que não fosse: põe cone, tira cone; tira cone, põe cone. Digo insignificante porque não necessitariam desempenhá-la se o problema já tivesse sido resolvido. Pior é saber que são nossos impostos que pagam o salário destes homens que bem poderiam estar fazendo outras coisas muito mais importantes para o desenvolvimento do país.
Não bastasse este buraco da vergonha, alguns trechos desta mesma Rodovia ligando Jarinú a Campo Limpo Paulista mais parecem uma colcha remendada, tamanha quantidade de reparos malfeitos. Se ao menos houvesse uma opção, mas não há. Quem por acaso desejar se aventurar pela Estrada de Ferro Bragantina, ligando as duas cidades, aí sim é que estará perdido, pois se sentirá num verdadeiro enduro, capaz de levar ao êxtase e elevar a adrenalina dos mais destemidos aventureiros.
Transitar por alguns trechos da Estrada de Ferro Bragantina entre Campo Limpo Paulista e Jarinu sentido Atibaia ou o contrário – Atibaia sentido Campo Limpo Paulista, passando por Jarinu - é se desafiar a encontrar em determinados trechos um pedacinho de estrada em meio a tantos buracos. Nem mesmo a presença de um condomínio de luxo bem em frente a um dos trechos esburacados é capaz de garantir o cuidado dos governantes para com esta estrada. Já vi descaso para com os pobres, mas para com os ricos eu nunca vi. Será que as coisas estão mudando? Ali se costuma dizer que não existem buracos na estrada, mas estrada nos buracos, pois eles são tantos que, somados, dá-se a impressão de se ter uma estrada-buraco. Ou será um buraco-estrada? Um amigo dizia que dá para ver outros buracos na beira da pista esperando a sua vez ou disputando espaço com os demais para virem para o meio da estrada.
Uma pergunta: será que estão esperando o pedágio? Porque parece que somente a iniciativa privada para dar jeito naquilo que a iniciativa pública não resolve. Foi assim com as estradas pedagiadas de norte a sul, de leste a oeste, do Oiapoque ao Chuí deste nosso imenso território. E qual foi a justificativa? Bem, em todas as conversas com respeito ao pedágio eu não ouvi outra que não fosse esta: “agora está bem melhor, antes isto aqui nem dava para trafegar direito, agora parece um tapete”. Que bela e formosa aliança simbiótica constituída entre governos e empresários. O gato se uniu ao rato e sobrou para o queijo.
E se bem estamos lembrados, primeiro os governantes deixaram nossas estradas virarem buracos para depois privatizarem-nas. E ao que tudo indica, a Rodovia Edgar Máximo Zambotto não se livrará deste jeitinho dos políticos brasileiros de arrancar mais dinheiro do povo. Afinal, o governo ganha com os impostos dos carros e ainda por cima fica com uma parcela daquilo que entra via pedágio.
E para não dizer que falei somente das flores, vêm aí mais impostos. Não contente com o fim da CPMF, nossos governantes não descartam a possibilidade da criação de outro imposto. Para o bem do povo, é claro! Alguém duvida? E desta vez, porque da outra não deu, para investimento na saúde. Uai, como diria o mineiro, a CPMF não foi criada para este fim? Não, mineirinho, aquela vez era somente um ensaio, agora sim é pra valer. É pagar pra ver.
O que aconteceu com todo o dinheiro arrecadado com a CPMF? Foi para a saúde? Foi. Da mesma forma que o dinheiro do selo pedágio foi para a recuperação de nossas rodovias. Para não ser tão radical, acredito que uma pequena parcela foi para a saúde e também para as rodovias. Afinal, é preciso acreditar que sim. O restante, bem, aí é rastrear para ver onde foi parar. E pelas últimas notícias é bom começar pelo bolso, pela cueca, pela meia – e, com a entrada de novos personagens neste cenário de corrupção, não estranhemos se aparecer dinheiro na calcinha e no sutiã, pois os corruptos estão inventando novas maneiras de guardar o dinheiro antes de o enviarem para suas contas nos paraísos fiscais.
Mas não devemos estranhar se ficarmos sabendo que boa parte do dinheiro da CPMF teve o mesmo fim do dinheiro arrecadado com o selo pedágio, cujo objetivo era a recuperação de nossas estradas. Na época houve quem comprasse selo pedágio para o ano todo e em seguida ficou sabendo que as rodovias brasileiras federais estavam sendo privatizadas e que uma nova modalidade de imposto estava sendo implantada. E assim, de imposto em imposto, o povo brasileiro vê seu dinheiro alimentar casos de corrupção, como o da deputada federal Jacqueline Roriz, e tantos outros exemplos que envergonham vexatoriamente nosso país, não somente aqui dentro, mas principalmente lá fora.
Wilson Aparecido Lopes é integrante do Movimento dos Sem Terra e Comissão Pastoral da Terra.