Correio da Cidadania

1º de Maio Popular em Goiânia

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O 1º de maio é o Dia do Trabalhador (a). A região Noroeste de Goiânia - com o apoio do Fórum do Grito dos Excluídos (as) e Assembléia Popular - realizou, pela segunda vez o 1º de Maio Popular: um 1º de Maio autônomo (do povo) e não um 1º de Maio pelego e atrelado aos interesses do capital nacional e internacional. Para a Região Noroeste, o 1º de Maio Popular foi também o pré-Grito dos Excluídos (as).

 

A comemoração iniciou com a concentração em frente ao CAIS do Jardim Curitiba II, às 8h:30m, num clima de muita animação, fraternidade e vontade de lutar. Participaram cerca de 400 pessoas, com um destaque especial para as mulheres e os jovens. Os participantes tiveram também a alegria da presença de um grupo de bravos lutadores(as) do Residencial Real Conquista, que, podemos dizer, vieram da “grande tribulação” (Ap. 7,14), a barbárie do Parque Oeste Industrial, mas foram vitoriosos(as).

 

No ano passado, na manifestação do 1º de Maio, foi distribuída a Carta aberta intitulada “Prioridades da Região Noroeste”, elaborada na Assembléia Popular, que aconteceu no dia 9 de abril de 2011, na Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida, bairro S. Domingos. A Carta apresentava as seguintes reivindicações, como direitos da população: saúde, educação, assistência social, transporte, segurança pública, trabalho, cultura/lazer/esporte, moradia/infra-estrutura, meio ambiente e participação popular. À época, a Carta foi entregue ao Poder Público para que as reivindicações da população fossem atendidas o mais rápido possível.

 

Infelizmente, depois de um ano, a situação continua praticamente a mesma. E é justamente por isso que a manifestação do 1º de Maio de 2012 da Região Noroeste - Pré-Grito dos Excluídos(as) - retomaram duas importantes bandeiras de luta: saúde pública e educação pública, que faziam parte da pauta de reivindicações de 2011.

 

A caminhada começou por volta das 9 horas e a primeira parada aconteceu em frente à Escola Estadual Nazir Safatle (ainda no Jardim Curitiba II), que - interditada pelo Corpo de Bombeiros há quase três anos por razões de segurança - foi demolida em agosto de 2010 com a promessa de se construir uma nova escola em sete meses. Foi iniciado o alicerce e as obras de construção do novo prédio pararam em abril de 2011 (continuando paradas até hoje). Uma placa do governo de Goiás informa que uma nova unidade escolar seria construída no local, no “Padrão Século XXI" (com salas de informática, auditório, biblioteca, quadra poliesportiva coberta, laboratório de ciência e sala para a direção).

 

Que descaramento! Que desrespeito para com o povo! A imprensa noticiou que o motivo principal do atraso é a falta de recursos. Será que os R$ 2.485.109,07 - o custo da obra segundo a placa do governo - foram engolidos por alguma “cachoeira”?

 

Por incrível que pareça, os cerca de 600 alunos da Escola demolida estudaram (melhor seria dizer: fizeram de conta que estudaram) por algum tempo numa antiga fábrica de sabão, num total descaso, e atualmente estão acampados numa parte do Colégio Estadual Jayme Câmara, em péssimas condições. Quando será que o governo do estado tomará as devidas providências, cumprindo o seu dever?

 

Depois da fala de algumas lideranças da Região Noroeste, a caminhada continuou - com cantos e muita alegria - e, durante o percurso, os participantes da manifestação, sobretudo os jovens, gritavam os slogans: “Eu nunca vi. Quero ver o Governo que aparece na TV” e “Promete, promete e nada acontece”. E cantavam o refrão: “Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

 

A segunda parada aconteceu em frente à Maternidade Nascer Cidadão, no Jardim Curitiba III. Os participantes da manifestação, que fizeram uso da palavra, lembraram, em primeiro lugar, o trabalho dedicado de tantos agentes de saúde que - apesar de condições precárias - servem ao povo com atenção e amor. Falou-se também do testemunho deixado pela Irmã Katherine, que tanto lutou pelo SUS em Goiânia - sobretudo na Região Noroeste - e, em especial, pela Maternidade “Nascer Cidadão”. O povo gritava: “Irmã Katherine, presente”!

 

Falou-se ainda da situação de descaso e, muitas vezes, de calamidade em que se encontra a saúde pública. Apesar de o SUS ser reconhecido, em teoria, como um dos melhores planos de saúde pública, na prática funciona mal e deixa muito a desejar, pela falta de estrutura física adequada, pela falta de material básico, pela falta de atendimento em casos de emergência e pela falta de vagas para internação na UTI, causando, muitas vezes, a morte dos doentes (Leia o meu artigo: O “corredor da morte” dos pobres. Diário da Manhã, Opinião Pública, 17/08/11, p. 6 ou http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=59474).

 

Todos os que fizeram uso da palavra se manifestaram contra a privatização da saúde, mesmo quando disfarçada, através das chamadas Organizações Sociais (OSs). A terceira parada e o encerramento da manifestação aconteceram por volta do meio-dia, em frente ao Colégio Estadual João Bênnio e ao lado da Escola Municipal Nossa Senhora da Terra, sempre no Jardim Curitiba III.

 

No Colégio João Bênnio o Estado realizou - através da Mac 3 Construtora LTDA. - uma reforma paliativa ao custo de R$ 55.833,57. Os próprios alunos levantam suspeitas sobre o valor gasto na reforma. Será que mais uma “cachoeira” engoliu o dinheiro do povo? “Na reforma, foi feita somente a pintura do Colégio, rampa para cadeirante e piso nos banheiros. Depois da reforma, uma das grades caiu; os ventiladores estão a ponto de desabar; falta cadeiras e as que têm estão quebradas; as portas estão caindo e os vidros quebrados; o bebedouro é sujo e emana um odor desagradável; na quadra tem entulho de lixo; foi encontrado maconha no banheiro; falta segurança” (depoimento de uma aluna).

 

No Colégio Estadual Jayme Câmara, no bairro Floresta, foi feita também uma reforma paliativa - pela mesma Construtora - no valor de R$ 63.586,73. “Durante a reforma, aumentaram o muro, colocaram câmeras de segurança, houve a construção de guaritas para o guarda”. Nesse caso também continuam as mesmas suspeitas sobre o uso do dinheiro público.

 

“Como o Colégio dividiu seu espaço físico com a Escola Estadual Nazir Safatle, não tem lugar para os alunos na hora do recreio. As salas são de placas, faltam torneiras nos banheiros; não tem quadra, os alunos praticam esporte no estacionamento; os livros ficam jogados e não tem bibliotecária; faltam professores (inglês, português); o lanche chega estragado e vencido; a direção não foi escolhida pelos alunos, mas pela subsecretaria de educação; falta de diálogo entre direção e alunos” (Depoimento de uma aluna). Que panorama deprimente, que falta de responsabilidade por parte do Poder Público!

 

As Escolas Municipais da Região Noroeste têm, em geral, uma estrutura física boa, mas as condições de trabalho são, muitas vezes, precárias.

 

Todos e todas que fizeram uso da palavra defenderam a Saúde Pública e a Educação Pública como direitos fundamentais do povo e dever do Estado. No encerramento da manifestação, os participantes deram as mãos, formando grandes círculos e manifestando publicamente o desejo de caminhar unidos na defesa dos direitos humanos e por uma vida digna para todos (as). Um mundo novo é possível. Lutemos por ele.

 

Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), é professor de Filosofia da UFG (aposentado).

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