Enterro simbólico denuncia caos no sistema saúde no Grajaú
- Detalhes
- Rodrigo Gomes, da Redação
- 24/05/2012
Movimento social, artistas, usuários e conselheiros gestores se reuniram nesta segunda-feira, 21, para se manifestarem contra o caos no sistema público de saúde da região do Grajaú, extremo sul de São Paulo. O grupo ocupou o saguão da Estação Grajaú da CPTM e realizou um “enterro simbólico da saúde pública, sugada pelos vampiros das Organizações Sociais de Saúde (OSS)”. Do lado de fora, projeção de gravações feitas na porta de UBS da região, faixas, cartazes, panfletagem e conversas com usuários do sistema de saúde.
As reivindicações organizadas pela Rede de Comunidades do Extremo Sul dizem respeito, principalmente, ao número de Unidades Básicas de Saúde na região. Mas apontam também problemas mais complexos, como a inexistência de unidades para atendimento em saúde mental e a 'agenda fechada'. Ao buscar a UBS para marcar uma consulta, a pessoa recebe como resposta que não há agenda para determinada especialidade. De acordo com Gustavo Moura, 28, da Rede Extremo Sul, “isso esconde a demanda. Muitas vezes só há um dia por mês para marcar consulta. Se as pessoas tivessem sua demanda registrada, seria visto que o problema de agendamento é muito maior do que dois, três meses para conseguir atendimento”.
Gustavo Moura também aponta como alvo da manifestação a entrega da administração do sistema às Organizações Sociais de Saúde. Embora a prefeitura aponte melhoras no atendimento à saúde com o estabelecimento das OSS, não houve melhora nas condições gerais que a população sempre enfrentou. “A região está cada vez mais populosa, mas os estabelecimentos de saúde não acompanham este crescimento, faltam médicos e unidades”, diz Moura. De fato, ao procurar as UBS em dias de marcação de consultas, o que se vê são imensas filas, insatisfação, falta de vagas por especialidade, entre outros problemas. A população chega muito cedo à porta das UBS, em geral por volta de cinco da manhã, para garantir lugar na fila. E esse é um problema bastante antigo.
De acordo com o Censo de 2010, o distrito do Grajaú possui 444.593 habitantes. O relatório de Política Nacional de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS) aponta como parâmetro para atendimento à população, em atenção básica, uma UBS com Estratégia Saúde da Família (ESF) para cada 12 mil habitantes ou uma UBS sem a Estratégia Saúde Família para cada 30 mil habitantes. Com base em dados disponíveis no site da prefeitura de São Paulo e informações obtidas nas próprias UBS, a região do Grajaú tem a ESF em todas as suas unidades.
Na Relação de Estabelecimentos de Saúde da Secretaria de Saúde, de abril de 2012, constam 12 Unidades Básicas de Saúde no Grajaú. Dessa forma, a partir de um cálculo simples, temos uma base de mais de 35 mil pessoas atendidas para cada UBS na região do Grajaú. Um número quase três vezes maior que o parâmetro estabelecido pelas diretrizes do SUS. Uma carência de cerca de 24 Unidades Básicas de Saúde. Existe a previsão de estabelecimento de, ao menos, uma Unidade Básica de Saúde na região, no bairro de Cantinho do Céu. Mas o processo se estende já há aproximadamente um ano, sem solução.
O Conselheiro Gestor de Saúde Juarez Ribeiro, 45, explica que já foi contratada, e está trabalhando há cerca de um ano, a equipe da UBS Cantinho do Céu. Porém, como não existe a UBS, estes trabalhadores estão estabelecidos na Unidade Parque Residencial Cocaia Independente, onde já está a equipe da própria UBS. “Com isso, a unidade do Residencial Cocaia está superlotada, atendendo quase 70 mil pessoas. Isso não é ruim só para a população, é ruim também para os trabalhadores”, diz Juarez Ribeiro. Os conselheiros e a Rede Extremo Sul já organizaram uma manifestação no começo de março, exigindo a construção da UBS Cantinho do Céu. “Mas até agora só recebemos promessa, promessa e promessa”, complementa.
Duas em uma: UBS Residencial Cocaia abriga equipe da UBS Cantinho do Céu (Carol Catini)
Outro problema que merece atenção diz respeito às UBS Chácara Santo Amaro e Alcina Pimentel Piza. Em ambas não há água encanada, sendo utilizada, tanto nos procedimentos médicos, como para uso dos pacientes, água de poço. No caso da UBS Chácara Santo Amaro, houve uma reunião emergencial do Conselho Gestor de Saúde em 3 abril, por conta de suspeitas de que a água pudesse estar contaminada. Foi construída uma cisterna na unidade para fornecimento de água, mas uma fonte que pediu para não ser identificada disse que água do poço continua a ser utilizada por conta de problemas na bomba d'água da cisterna.
UBS Chácara Santo Amaro recebeu cisterna, mas ainda utiliza água de poço (Rodrigo Gomes)
A única avaliação positiva por parte da população é dada em relação às unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA). Nesse caso, os usuários dizem conseguir o que buscam quando procuram as AMAs. “Lá a gente é atendido, demora, mas é atendido. E resolve o problema que a gente tem”, diz a manicure Iracema Rocha. No entanto, é preciso observar que as AMAs da região foram estabelecidas dividindo-se ao meio UBS já existentes. O que na prática diminui o espaço disponível para as Unidades Básicas de Saúde. A UBS Jardim Myrna, por exemplo, mantém basicamente a mesma estrutura de quando foi inaugurada, em 1984, mas hoje está dividida entre AMA e UBS.
Iracema Rocha, 45, usuária da UBS Castro Alves, está revoltada. “Essa história de que está tudo uma beleza é mentira. Demora até três meses para conseguir um ginecologista e meu marido espera há dois anos por um exame de próstata”. A maioria das unidades na região não conta com mais que clínicos gerais, pediatras e ginecologistas. Embora haja o Ambulatório de Especialidades Milton Aldred, ele não tem condições de dar conta da demanda. Não é apenas dona Iracema que reclama do atendimento. No site da Rede Extremo Sul há alguns vídeos disponíveis, feitos na porta de UBS, com relatos dos usuários sobre os problemas na região.
A defasagem no atendimento à saúde vai ainda mais longe se considerarmos o atendimento de alta complexidade. O único hospital da região, o Hospital Geral do Grajaú, atende sozinho a aproximadamente 800 mil pessoas. Isso porque é o único hospital a atender as populações de Cidade Dutra, Marsilac, Parelheiros e Grajaú. O Hospital de Parelheiros, promessa de campanha do prefeito Gilberto Kassab, não saiu do papel. E os Pronto Socorros de Parelheiros e Maria Antonieta F. de Barros (Grajaú), são insuficientes para a densidade populacional da região.
Essas questões são, em geral, difíceis de ser conversadas com o poder público ou as organizações gestoras. Em casos citados, Chácara Santo Amaro e Cantinho do Céu, os gerentes não falaram com os jornalistas sobre os problemas apontados. As equipes das unidades alegam que são proibidos de dar entrevistas e que se devem procurar informações com a Secretaria de Saúde. Porém, procurada tanto por telefone como por e-mail, desde o dia 17 de maio, não houve resposta ao pedido de entrevista, pela Secretaria Municipal de Saúde.
Rodrigo Gomes é jornalista.
Comentários
abraços,me enviem novidades do Cantino do céu,cocaia e grajau.Como está a saude por aì. Abraços
Assine o RSS dos comentários