Correio da Cidadania

Grito dos Excluídos 2012

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A Cáritas Brasileira define muito bem o que é o Grito dos(as) Excluídos(as). Diz: “o Grito dos Excluídos é uma manifestação popular carregada de simbolismo. É um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. O Grito dos Excluídos, como indica a própria expressão, constitui-se numa mobilização com três sentidos:

 

- denunciar o modelo político e econômico que, ao mesmo tempo, concentra riqueza e renda e condena milhões de pessoas à exclusão social;

 

- tornar público, nas ruas e praças, o rosto desfigurado dos grupos excluídos, vítimas do desemprego, da miséria e da fome;

 

- propor caminhos alternativos ao modelo econômico neoliberal, de forma a desenvolver uma política de inclusão social, com a participação ampla de todos os cidadãos”.

 

Afirma ainda: “Não é um movimento nem uma campanha, mas um espaço de participação livre e popular, em que os próprios excluídos, junto com os movimentos e entidades que os defendem, trazem à luz o protesto oculto nos esconderijos da sociedade e, ao mesmo tempo, o anseio por mudanças”  (http://caritas.org.br/novo/gritos-dosas-excluidosas-2012/).

 

Em 2012 o Grito dos(as) Excluídos(as) traz como tema: “Queremos um Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população!”. O pano de fundo de todos os Gritos é sempre: “A Vida em primeiro lugar”.

 

Lideranças dos movimentos sociais populares realizaram em São Paulo, no dia 30 de agosto, às 14:30h, entrevista coletiva para o lançamento da 18ª edição do Grito dos Excluídos. Participou também da coletiva o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz da CNBB (promotora do evento, juntamente com outras entidades), dom Guilherme Werlang, que convocou a população a acompanhar as manifestações programadas. Entre as lideranças presentes estava Iury Paulino, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens. A coletiva aconteceu na sede do Regional Sul 1 da CNBB, na capital paulista.

 

Dom Guilherme disse que os movimentos sociais populares exigem mudanças profundas. “O Estado faz pequenas concessões, mas não muda sua estrutura”, disse. Reconheceu que, a partir dos últimos governos federais, o Estado brasileiro tornou-se “menos surdo” aos gritos dos grupos sociais considerados excluídos. “Tivemos avanços, sim, mas seu modelo, sua essência, continua servindo aos interesses do capital internacional”. E ainda: “O Estado é uma empresa particular. Ele tem um entendimento sobre desenvolvimento complicado, que favorece a poucos e afeta populações injustamente. Daremos, neste ano, um grito contra a gentrificação que ele vem promovendo”. (Gentrificação é o processo urbanístico pelo qual se busca “enobrecer” bairros e cidades ao substituir moradores pobres por novos imóveis e empreendimentos para os que têm maior poder aquisitivo).

 

Iury Paulino abordou a questão da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na bacia do Rio Xingu, no Pará, e disse que a estratégia energética do país não busca atender a toda a população. “Belo Monte nada mais é do que a evidência de que a estratégia política de energia é feita para atender as grandes construtoras, mineradoras e empresas internacionais”. Segundo ele, a energia que vai ser produzida atenderá mais a iniciativa privada do que a população. “O problema não é a barragem, mas a quem ela servirá. As pessoas não entendem que as cidades próximas às barragens não usufruem da energia produzida por elas”.

 

Para Yuri, o empreendimento de Belo Monte não levou desenvolvimento às cidades afetadas por ele, mas sim problemas urbanos, com uma concentração demográfica impossível de ser atendida pelos serviços públicos que elas ofereciam. Questionou: “Não entendo quando dizem que com Belo Monte a região passará a ter escolas e um serviço eficaz de saúde. O que uma coisa tem a ver com a outra? Por que precisa de barragem pra ter escola?”.

 

A obra é alvo de protestos de indígenas, grupos socioambientais e do Ministério Público paraense, por conta dos impactos negativos que já causa e ainda causará na região. As entidades que promovem o Grito dos Excluídos são contra o projeto, porque acarreta desalojamentos forçados e mais injustiças no campo e na cidade.

 

O Grito dos Excluídos abordará também, em todo país, a questão da moradia. Ari Alberti, da coordenação do Grito, afirmou: “O Estado tem a obrigação de fornecer moradia digna, mas não o faz”. Outro grito deste ano será a denúncia da violência institucional cometida contra a juventude, em particular a juventude negra e pobre. Ettore Meireles, integrante da Pastoral da Juventude de São Paulo, afirmou: “A violência (contra essa parcela da população) cresceu 400% nos últimos dois anos. Homossexuais e negros estão sendo exterminados. A polícia trata como criminosos os jovens, que, muitas vezes, procuram o lazer nos espaços públicos, como as praças, pois é só isso que lhes resta”. O que acontece em São Paulo acontece também em todas as grandes cidades do Brasil, como Goiânia.

 

Farão parte ainda das pautas das manifestações os problemas da fome e da falta de saneamento básico generalizado. “Embora o Brasil seja a sexta economia do mundo, é um dos países mais desiguais. Gritaremos contra isso”.

 

De 1° a 7 de setembro serão promovidas em todo Brasil as mais variadas atividades: atos públicos, romarias, celebrações especiais, seminários, cursos de reflexão, blocos na rua, caminhadas, teatro, música, dança, feiras de economia solidária e acampamentos (mais aqui). No dia 7, data em que se celebra a “independência” do Brasil, tradicionalmente o Grito dos Excluídos organiza grandes passeatas em diversas cidades do Brasil.

 

Em Goiânia a concentração para a passeata do Grito (organizada pelo Fórum do Grito dos Excluídos e pelo Fórum dos Movimentos Populares de Goiás) será na Assembleia Legislativa de Goiás, às 8:00h. Daremos um destaque especial aos gritos por saúde e educação pública de qualidade para todos, por moradia digna, por reforma agrária e pelo fim da criminalização da pobreza e dos movimentos populares. Participe! Sua presença e muito importante!

 

“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

 

“Queremos um Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população!”, lema deste ano.

Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), é professor de Filosofia da UFG (aposentado).

 

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