Problemas da representação política
Como nem todos podem dedicar todo seu tempo à atividade
política, ela precisa necessariamente fundar-se no princípio da
representação. Como os advogados, os dirigentes sindicais e os
corretores da bolsa, o político representa interesses de terceiros.
A representação de interesses é matéria delicada para os advogados,
que representam interesses bem definidos de uma pessoa ou de algumas
pessoas; para o dirigente sindical, cuja tarefa é negociar com os
patrões ou com o Estado propostas formais votadas em assembléias; para
o corretor da bolsa, que pode sempre telefonar para o seu cliente para
fechar o negócio. Pode-se imaginar, portanto, o tamanho do problema
quando se trata da representação política, em que o representante não
chega sequer a conhecer todos os seus representados e menos ainda os
interesses e visões que cada qual deles têm a respeito do assunto a
ser decidido.
A democracia ainda não encontrou uma solução para esse problema. No
entanto, essa solução é essencial para que os direitos dos
representados não sejam usurpados por uma oligarquia de
representantes.
O PT, nos seus inícios, deu grande atenção à matéria. Seu primeiro
Estatuto tratava detalhadamente do Núcleo de Base e do procedimento de
Consulta às Bases. As dificuldades para cumprir essas normas na
prática cotidiana da vida partidária, em vez de conduzirem a um
esforço de aprimoramento do sistema, deram lugar ao abandono do rigor
inicial. A direção foi paulatinamente substituindo a consulta direta
às bases pela delegação de poderes às instâncias superiores e pelas
decisões de assembléias de maioria adrede preparada, em que textos de
resoluções circulavam “em letra miúda”, como bem disse Mangabeira
Unger. Isto resultou na restrição do debate interno aos andares
intermediários e superiores da estrutura de organização e na
concentração do poder nas mãos dos que detêm o controle burocrático
dessas instâncias. Além de anular a minoria, o sistema frustra
igualmente a vontade da maioria, na medida em que a manipula.
O debate que tem alimentado o noticiário político trata da
possibilidade ou não de reverter a linha da atual direção do PT; da
necessidade ou não de criar novos partidos; da participação
exclusivamente através de ONGs cívicas. Porém, bem mais profícua seria
a procura de uma resposta a esta questão essencial: quais as formas
práticas de assegurar que os representantes políticos expressem, em
todos os momentos de sua atuação, decisões esclarecidas e ponderadas
de suas bases?
Experimentar formas novas de representação e consulta às bases talvez
seja, neste momento confuso, um exercício preparatório relevante.
Melhor do que repetir o que já foi tentado e não deu certo.
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