Correio da Cidadania

O extermínio de MCs na Baixada Santista

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Na ma­dru­gada da úl­tima quinta-feira foi as­sas­si­nado em São Vi­cente, li­toral de São Paulo, MC Primo, de 28 anos, um dos can­tores de funk da Bai­xada San­tista de maior su­cesso. Foi o quarto as­sas­si­nato de um ar­tista de funk na Bai­xada San­tista em três anos. Na re­a­li­dade, o quarto as­sas­si­nato em 48 meses. Em abril do ano pas­sado, o MC Duda do Ma­rapé, de 27 anos, foi as­sas­si­nado com nove tiros. Em abril de 2010, foram as­sas­si­nados na Praia Grande o MC Fe­lipe Bo­ladão e o DJ Fe­lipe da Praia Grande, ambos de 20 anos, quando se di­ri­giam a um baile funk de Gua­ru­lhos.


Estes trá­gicos epi­só­dios se somam a inú­meros casos de vi­o­lência pra­ti­cados contra ar­tistas do funk. Entre os mais em­ble­má­ticos, pode-se citar o de Kátia, a com­po­si­tora do “Rap da fe­li­ci­dade”, talvez o maior su­cesso da his­tória do funk, que ga­nhou todas as classes so­ciais com versos como “eu só quero é ser feliz, andar tran­qui­la­mente na fa­vela onde eu nasci”. Acabou as­sas­si­nada, es­quar­te­jada e quei­mada na fa­vela. Por sua vez, Be­tinho da Força do Rap, com­po­sitor de “Ca­chorro”, mú­sica gra­vada por Mr. Catra que re­trata a cor­rupção po­li­cial e que foi cen­su­rada por su­pos­ta­mente fazer apo­logia ao crime, foi exe­cu­tado pela po­lícia, se­gundo o DJ Marl­boro e Mr. Catra, em uma ope­ração na fa­vela do Acari.


As mortes desses ídolos do funk evi­den­ciam o des­caso ou até a cum­pli­ci­dade do Es­tado. Per­ma­necem in­vi­sí­veis, em vir­tude da origem so­cial dos MCs e do fato de o funk ser cons­tan­te­mente as­so­ciado à cri­mi­na­li­dade, apesar de mo­bi­lizar mi­lhões de jo­vens, por todo o país, em busca de lazer. Res­pon­sa­bi­liza-se a ví­tima por seu des­tino, su­ge­rindo-se apres­sa­da­mente que sua morte é re­sul­tado es­pe­rado (me­re­cido?) de seu en­vol­vi­mento com tra­fi­cantes. 

As­so­ci­ando as ví­timas a tra­fi­cantes, no en­tanto, o Es­tado sim­ples­mente “lava suas mãos” e dá o caso como en­cer­rado, sem fazer as de­vidas in­ves­ti­ga­ções sobre a au­toria dos crimes ou se com­pro­meter a in­vestir em po­lí­ticas pre­ven­tivas. Não se pode es­quecer que, apesar de serem os prin­ci­pais des­ti­na­tá­rios dos es­te­reó­tipos de de­linqüentes, os jo­vens ne­gros das pe­ri­fe­rias e fa­velas são, de acordo com o Mapa da Vi­o­lência 2011, o setor que apre­senta a maior vul­ne­ra­bi­li­dade à vi­ti­mi­zação vi­o­lenta.


MC Primo, can­di­dato a ve­re­ador em São Vi­cente em 2008, al­cançou pro­jeção na­ci­onal com a mú­sica “Di­re­toria” e foi acu­sado de cantar “proi­bidão”, um gê­nero de funk que su­pos­ta­mente faz apo­logia ao crime. Muitos MCs já foram presos sob a acu­sação de cantar “proi­bi­dões”. Alegam que sim­ples­mente re­tratam a re­a­li­dade das pe­ri­fe­rias e fa­velas, do­cu­men­tando seus va­lores e abor­dando de forma crua e di­reta as­suntos como con­flitos entre fac­ções cri­mi­nosas pelo do­mínio do trá­fico de drogas, cor­rupção e vi­o­lência po­li­cial, ra­cismo, mi­séria, prisão, de­sem­prego etc. Cantam em pri­meira pessoa porque, se não vivem aquela re­a­li­dade, pelo menos co­nhecem de perto al­guém que a viva. 

Neste ponto, o “proi­bidão” seria uma mú­sica de pro­testo, uma “arma” de de­núncia, de vi­si­bi­li­dade so­cial. É a fa­vela can­tando sua pró­pria his­tória para a fa­vela. Quem não vive aquele co­ti­diano, por­tanto, pode se as­sustar com a vi­o­lência das le­tras. MCs acu­sados de fazer apo­logia ao crime sus­tentam que o sis­tema penal é se­le­tivo. O pro­blema não é a mú­sica, mas quem a canta. Por outro lado, não é a des­crição da re­a­li­dade incô­moda que deve ser si­len­ciada, mas a re­a­li­dade em si que deve ser mu­dada. As me­didas re­pres­sivas cos­tumam ser con­tra­pro­du­centes. Ao adotar em re­lação ao funk apenas uma po­lí­tica cri­minal, em de­tri­mento de uma po­lí­tica cul­tural, o Es­tado apro­xima ainda mais MCs da área de in­fluência de tra­fi­cantes. 

De qual­quer forma, neste mo­mento não é o “proi­bidão” que deve ser jul­gado, mas as au­to­ri­dades que re­primem essa ma­ni­fes­tação cul­tural e os as­sas­sinos de mais um jovem MC. Na letra de “Di­re­toria”, MC Primo pro­fe­ti­ca­mente canta a re­volta do “mo­leque so­fredor” que “se jogou nas ondas da mal­dade” e teve seu cas­telo de­sa­bado. Con­si­dera-se um “guer­reiro”, pede para que Deus “olhe por nós”, e deixa o seu re­cado final: “ven­deram os meus pen­sa­mentos, mas não ca­laram a minha voz”.

Da­nilo Cymrot é mestre e dou­to­rando em Cri­mi­no­logia pela Uni­ver­si­dade de São Paulo.

Comentários   

0 #4 a os mc's que si forammaxwe 17-07-2013 19:22
homenagem aos mc's ae pessoal não mate os mc's e as pessoas porque e errado isso eles so estavam fazendo seu trabalho eles não tem cupa eles tem familia para cria fiho se ele se meteu com a namorada de alguem ou outra corsa não va com violencia va na conversa sempre resolve tudo por que não e mundo que vai acaba nois que ta acabando com ele e tambem falo pros mc's para de fazer musicas do pcc de armas etc. ingual do mc. daleste morreu então e esse cosselho que eu falo pros mc's cuidado com quem semete então munta paz e sucesso pros mc's tchau
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0 #3 RE: O extermínio de MCs na Baixada Santistadhanna 09-05-2012 16:44
ae mano ....ta tudo errado ...
um mc é morto na crueldade e niguem fala nada ...ninguem reage , a midia se silencia ,.....quando é um artista qualquer, um cantor famoso, o mundo simplesmente se revela ......hhhhhaaaaa vei vcs tao de brincadeira ne nao?
um mc não é so um mc ,mas a voz de uma comunidade na qual a musica(funk)expressa o sentimento e a vivencia de cada um .
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0 #2 protestosusansumer 27-04-2012 13:45
Venho Protestar não apenas como fã,mas como Mãe

Faço a seguinte comparação :ofilho do cantor Leonardo sofreu um acidente está entre a vida e a morte.A midía da todo acesso.
MC PRIMO foi executado na frente de seus filhos e esposa a mídia nada diz,mas na hora de criticar, marginalizar esses que são a voz de uma comunidade ,falam da realidade, a mídia nada diz.Lembre-se o filho de leonardo tem um filho.
O primo tinha 2 ,uma de 5 e eum de nove
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0 #1 Extermínio de MC(?)Hélio Querino Jost 27-04-2012 12:05
O que é MC? É alguma expressão ou código estrangeiro?
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